Título: Combinação Perigosa
Autor: Bottari, Elenilce ; Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 12/08/2008, O País, p. 5

É LUGAR-COMUM dizer que o Rio é uma cidade adequada à prática dos exercícios físicos. A Lagoa Rodrigo de Freitas, a orla da Zona Sul e os parques cariocas estão aí para confirmar. Também é lugar-comum dizer que os cariocas são apaixonados por exercícios físicos. Academias lotadas, ciclovias com movimento intenso, pessoas de todas as idades se exercitando ao redor do Maracanã, em volta de praças, de monumentos, em áreas abertas e em ruas interditadas ao trânsito. No entanto, o que é motivo de orgulho para a cidade sede do Pan-Americano 2007 e candidata a sede das Olimpíadas de 2016, e ainda motivação para que mais pessoas busquem qualidade de vida, é também motivo de preocupação. A cidade carece de mais espaços para a prática de exercícios e, mais do que isso, precisa de manutenção dos equipamentos já existentes, sob pena de os exercícios praticados na busca por saúde e boa forma se transformarem em causas de torções, entorses, distensões, estiramentos e até fraturas. O Arpoador talvez seja o melhor exemplo de espaço sem manutenção adequada. As barras e os pesos de ferro e concreto quebrados pela ação do tempo e dos vândalos são um perigo para as dezenas de pessoas que ali, diariamente, se exercitam. E o que dizer das barras enferrujadas instaladas nas areias da praia? Ou mesmo da sinalização precária e sem qualquer orientação nas ciclovias que contornam a Lagoa e que se espalham ao lado do calçadão das praias da zona sul? Nos bairros das zonas Norte e Oeste, a situação é ainda pior: o abandono é uma realidade, e os cuidados precisam ser redobrados. Há menos opções, há mais pessoas, uma combinação perigosa que aumenta, substancialmente, os riscos para todos. Somos a cidade do esporte, do lazer e das lindas paisagens. Precisamos, a partir de agora, ser também a cidade da responsabilidade, do cuidado com as pessoas e com os aparelhos onde os cariocas buscam encontrar saúde e qualidade de vida.