Título: Vamos largar esse osso!
Autor: Cássia, Cristiane de
Fonte: O Globo, 12/08/2008, O Globo, p. 10

Cabral defende tirar da Infraero a gestão do Tom Jobim para não inviabilizar Jogos de 2016

Cristiane de Cássia

Num discurso forte durante audiência pública na Assembléia Legislativa, o governador Sérgio Cabral defendeu ontem, de forma contundente, a concessão do Aeroporto Internacional Tom Jobim para a iniciativa privada. Segundo Cabral, o presidente Lula já estaria sensibilizado para a proposta de concessão diante da precariedade do aeroporto - que hoje, segundo Cabral, atenta contra a memória do maestro - e da necessidade de mudanças urgentes por causa da candidatura do Rio a sede das Olimpíadas de 2016. O aeroporto foi apontado pelo Comitê Olímpico Internacional (COI) como o ponto mais fraco da cidade, com nota 3,7.

- O Rio está com a faca e o queijo na mão para fazer as Olimpíadas de 2016. O Galeão é o principal entrave - disse o governador, aplaudido quando disse que Lula não admitiria que o aeroporto fosse "o vilão, o responsável pela derrota do Rio".

A estimativa do estado é que o Tom Jobim precise de no mínimo R$500 milhões em investimentos para se adaptar às exigências do COI. Isso inclui a conclusão do Terminal 2, a reforma do Terminal 1 e a construção de uma nova área de estacionamento (uma determinação internacional proíbe garagens dentro de estruturas aeroportuárias, para reduzir o risco de ataques terroristas).

A Secretaria estadual de Transportes apresentou um levantamento mostrando que, apesar do aumento do número de passageiros - 11% a mais em 2007 do que no ano anterior -, a rentabilidade do Tom Jobim caiu, dando um prejuízo de R$165 mil. O secretário estadual de Transportes, Júlio Lopes, destacou as despesas gerais elevadas, como o gasto de energia, de R$2,9 milhões por mês.

"Gambiarra não resolve", diz Cabral

Também presente à audiência, que fazia parte do Fórum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado Jornalista Roberto Marinho, o presidente da Infraero, Sérgio Gaudenzi, negou o prejuízo, garantindo que o aeroporto é um dos 12 ainda rentáveis do país. No ano passado, o faturamento teria sido de R$280 milhões. Ele admitiu, no entanto, que houve abandono da infra-estrutura do Tom Jobim nos últimos anos. Garantiu, porém, que os investimentos deste ano (R$70 milhões) já superam o dos cinco anteriores (total de R$50 milhões).

A expectativa da Infraero é que as obras no Tom Jobim fiquem prontas em três anos e meio. Elas estão orçadas em R$400 milhões e incluem cinco novos guichês de check-in no Terminal 2 e a recuperação de todo o sistema elétrico e de ar-condicionado do Terminal 1, entre muitas outras. Mas tem havido dificuldade nas licitações. Nas duas primeiras para a conclusão do Terminal 2, que tem um terço de sua área inutilizada, não houve concorrentes. A terceira licitação está sendo aberta agora. Diante disso, Cabral foi irônico com Gaudenzi:

- Vamos largar esse osso! - disse o governador, acrescentando que "gambiarra não resolve".

Para Gaudenzi, o problema hoje das licitações é a falta de referência de preços para obras no setor. Enquanto os valores baixos espantam empresas, os altos são um problema para o Tribunal de Contas da União (TCU), que recentemente embargou quatro obras de aeroportos. O presidente da Infraero não quis entrar na polêmica sobre a concessão do Tom Jobim:

- Não somos donos de aeroportos, apenas os operamos. A conversa sobre concessão tem que ser feita com a União.

O diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac), Alexandre Barros, apontou a elaboração de um novo modelo de concessão para as operações aeroportuárias como um desafio para a instituição. Ele lembrou que o movimento de nove milhões de passageiros por ano no Tom Jobim deve aumentar, mas a infra-estrutura pode ser um entrave para o crescimento. Barros lembrou também que o Santos Dumont é subutilizado.

Só para a Copa de 2014, a expectativa do presidente da Firjan, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, é que o Rio receba mais 500 mil visitantes. Ele defendeu, além das obras no Tom Jobim, a criação de um centro empresarial e industrial numa área do aeroporto.

Os empresários do setor hoteleiro foram convocados ontem a se unir também em prol da candidatura do Rio a sede dos Jogos de 2016. Na abertura do 50º Congresso Nacional de Hotéis, o vice-governador Luiz Fernando Pezão e o ministro do Turismo em exercício, Airton Nogueira Pereira Júnior, pediram aos empresários um inventário sobre o número de quartos disponíveis, para ser entregue ao COI. Pezão aproveitou o debate para defender a redução de impostos nas áreas de hotelaria e gastronomia.