Título: 106,2 mil empregos
Autor: Cristino, Vânia
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2009, Economia, p. 14

Criação de vagas com carteira assinada melhora em abril, mas ainda é frágil. Número supera o total de postos fechados no início do ano, indicando recuperação gradativa do mercado de trabalho no país

A atendente Márcia é uma das brasilienses que conseguiram uma nova oportunidade. A jovem agora consegue conciliar trabalho e estudo Depois de quatro meses procurando emprego, Márcia Pereira de Almeida conseguiu a tão aguardada vaga: foi contratada como atendente no quiosque do Brasília Shopping. O novo emprego é tudo o que a estudante do nível médio quer no momento porque dá para conciliar o trabalho com os estudos. ¿De manhã, vou para a escola, depois volto para casa e, antes de ir trabalhar, ainda dá tempo de fazer os deveres e estudar um pouco¿, conta, satisfeita, a garota que praticamente acaba de sair da adolescência. O emprego no quiosque é o segundo de Márcia, que antes foi menor aprendiz por quase um ano.

A colocação que Márcia conseguiu mostra que a situação já está melhorando no mercado de trabalho do Brasil. Os números divulgados ontem pelo ministro do Trabalho, Carlos Lupi, demonstram isso. Pela primeira vez no ano, a quantidade de empregos gerados em abril foi capaz de reverter, com sobra, as perdas que vinham se acumulando desde o início de 2009. No mês passado, o saldo líquido do emprego foi positivo: 106.205 novas vagas. Somado com os resultados de fevereiro e março, de mais 43.997 vagas, e descontadas as perdas de janeiro, que foram da ordem de 101.748 postos, o primeiro quadrimestre do ano fechou com saldo líquido do emprego positivo em 48.454 vagas.

Pode parecer pouca coisa na comparação com anos anteriores. Nesse período em 2008, por exemplo, o mercado de trabalho acumulava 848.962 vagas. Desde 2004, o número de novos empregos com carteira assinada criados nos primeiros quatro meses de cada ano sempre superou os 500 mil. Acontece que nos anos anteriores não havia a crise econômica que varreu empregos por todo o mundo e atingiu o Brasil a partir de novembro de 2008. Mesmo depois de três meses consecutivos de aumento do emprego formal, o número de empregos que a economia brasileira foi capaz de gerar ainda está longe de cobrir a perda de novembro e dezembro, quando foram queimados 695.767 postos de trabalho.

A virada foi comemorada pelo ministro do Trabalho. Carlos Lupi estava exultante com o que classificou de reação de todas as cadeiras produtivas, inclusive a indústria de transformação, que foi positiva em apenas 183 postos de trabalho. O ministro fez questão de dizer que o Brasil é o primeiro país do G-20 a criar empregos. Em abril, segundo Lupi, enquanto o Brasil gerava mais de 100 mil postos de trabalho, os Estados Unidos amargava a queima de 500 mil empregos. No ano, os Estados Unidos já contabilizam mais de cinco milhões de postos de trabalho destruídos pela crise.

¿Eu torço e trabalho para o Brasil dar certo. Tem gente que torce e trabalha para o Brasil dar errado¿, disse Lupi que aproveitou para criticar as pesquisas de emprego que só abrangem as grandes regiões metropolitanas. O emprego vem crescendo mais no interior e isso só o Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) é capaz de registrar¿, observou. Em abril, os dados do Caged dão razão ao ministro. Dos 106.205 empregos criados, apenas 20 mil foram gerados nas regiões metropolitanas.

O setor que está alavancando o emprego continua sendo o de serviços (59.279 vagas). A seguir vêm agricultura (22.684 vagas); construção civil (13.338 vagas); comércio (5.647) e administração pública (5.032). A indústria de transformação interrompeu a queda acentuada dos últimos cinco meses. Mesmo assim, alguns dos seus subsetores, como a indústria metalúrgica e mecânica, desempregaram.

Distrito Federal Para o ministro Carlos Lupi, a curva do emprego vai se inverter. ¿Começamos devagar, mas vamos crescer.¿ Otimista, Lupi se atreveu a fazer a primeira previsão para o ano. ¿Vamos gerar mais de um milhão de empregos e crescer entre 2% e 2,5% do PIB( Produto Interno Bruto¿, assegurou.

Em termos regionais, o Distrito Federal está entre as seis unidades da Federação que mais criaram vagas. Em Brasília, foram 4.980 postos de trabalho no mês. Devido a problemas sazonais, com entressafra do setor sucroalcooleiro, Alagoas foi o estado que mais desempregou (menos 16.680 empregos).