Título: Pedreiro diz que foi provocado e matou em legítima defesa
Autor: Rebello, Aiuri
Fonte: O Globo, 09/08/2008, O País, p. 3

Eu me arrependo do que fiz, mas acho que foi uma fatalidade. Não foi culpa minha, apenas me defendi¿

LARANJAL PAULISTA. Personagem central da decisão do STF, o pedreiro Antônio Sérgio da Silva, de 42 anos, disse ontem que agiu em legítima defesa ao matar a facadas o marceneiro Marcos Djalma de Souza Soares e que a vítima era ¿um encrenqueiro¿.

¿ O sujeito (o marceneiro morto) era muito encrenqueiro. Sempre foi de beber e arrumar brigas pela cidade. Ele já me provocava há muito tempo, e sempre evitei brigar com ele ¿ alegou o pedreiro.

Silva deu sua versão do crime:

¿ Naquela noite, quando entrei no bar, vi o cara e já virei para ir embora. Não deu tempo. Ele veio para cima de mim e começou a me empurrar.

O pedreiro diz que havia ido pescar no Rio Sorocaba e que, por isso, carregava uma sacola com uma garrucha (arma de fogo de um tiro) e uma faca grande de cozinha.

¿ A briga cresceu, e acabamos na rua. Dei um tiro para o alto, e ele saiu correndo. Quando viu que era uma garrucha e não tinha mais tiros a ser dados, ele correu de volta para cima de mim ¿ disse Silva.

Durante a luta, o pedreiro deu a facada que matou o marceneiro.

¿ Eu me arrependo do que fiz, mas acho que foi uma fatalidade. Não foi culpa minha, apenas me defendi ¿ disse ele ontem, depois de saber da anulação de seu julgamento.

O pedreiro se entregou à polícia dias depois do crime, mas nunca apresentou a arma. Ficou preso até pouco depois do julgamento que o condenou a 13 anos e meio de prisão. De acordo com o advogado Joel João Ruberti, que defendeu gratuitamente o pedreiro com mais dois colegas, ¿tudo tem limite¿:

¿ No dia do crime, a vítima havia dito ao meu cliente que já tinha feito sexo com a ex e com a atual mulher dele, e que iria fazer o mesmo com a filha dele.

¿O júri me viu com olhos diferentes por causa das algemas¿

Em agosto de 2005, o pedreiro conseguiu habeas corpus para responder pelo crime em liberdade. Sobre as algemas e a decisão do STF, Silva foi categórico:

¿ Achei acertada a decisão da Justiça. Não sou um criminoso para ficar algemado, e o júri me viu com olhos diferentes por causa disso. Dá para acreditar na Justiça. Estou confiante para o novo julgamento.

Ruberti define a decisão do STF como uma grande conquista da sociedade brasileira.

¿ É um momento marcante para a Justiça, ainda mais agora, quando a Polícia Federal realiza essas operações cinematográficas, colocando algemas em todo o mundo. O mais interessante é que o caso que gerou essa decisão era o de um réu pobre, sem condições de contratar uma defesa.

Hoje, cerca de cinco anos após o crime, o pedreiro diz que tenta reconstruir sua vida. Ele continua casado com a mesma mulher da época do crime e tem quatro filhos.

¿ Não freqüento mais bares para evitar confusão. Fico com a família.