Título: O que vai conter a fúria do criminoso?
Autor: Franco, Bernardo Mello
Fonte: O Globo, 09/08/2008, O País, p. 4

Presidente de associação de policiais reclama de decisão

Maiá Menezes

A decisão do STF repercutiu mal também na polícia fluminense. Oficialmente, a Secretaria de Segurança afirma que vai cumprir a lei, mas a Associação de Cabos e Soldados protestou contra a restrição ao uso de algemas. Sob o ponto de vista do trabalho da polícia, diz o presidente da entidade, Vanderlei Ribeiro, a medida representa um risco. Para ele, cabe ao policial, na hora da prisão, avaliar se deve ou não usar algemas. Ninguém pode tomar essa decisão por eles, diz o presidente da associação.

- O policial está sujeito a mais riscos (a partir da decisão). Se o detento for mais forte que o policial, como vai ser feita a condução até a delegacia? E qual será o instrumento para conter a fúria do criminoso? O policial tem que ter a liberdade de escolher. Há casos em que ele precisa algemar. Impedir de usar um instrumento que faz parte do equipamento policial é absurdo - diz Vanderlei.

O presidente da associação vê, na decisão, uma maneira de evitar expor presos mais ricos à humilhação pública. Segundo ele, o contexto das últimas prisões, que exibiram grandes empresários submetidos, sob holofotes, submetidos a algemas, explica a medida:

- Essa medida, na realidade, foi para proteger alguns privilegiados. Trabalhador se leva para delegacia com algemas, e ninguém faz nada. Para defender a elite, eles são fortes. Foi uma medida anti-democrática e infeliz.

A assessoria de imprensa da Secretaria estadual de Segurança informou que será cumprida a decisão da Justiça. Mas ressaltou que haverá casos excepcionais, em que será necessário o uso de algemas, como prevê a própria decisão. O secretário José Mariano Beltrame não quis se manifestar sobre a decisão dos ministros do Supremo.