Título: Farpas entre beijos e apertos de mão
Autor: Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 09/08/2008, O País, p. 10

Candidatos a prefeito se encontram e "lavam roupa suja" sobre a campanha

Flávio Tabak

Eles passam o dia nas ruas trocando acusações, sempre longe uns dos outros. Mas, ontem, no conforto do Copacabana Palace, acabaram se encontrando. E o que ocorreu não foi propriamente troca de gentilezas. Reunidos para assistir à abertura dos Jogos Olímpicos de Pequim a convite da TV Bandeirantes, os candidatos Marcelo Crivella (PRB), Jandira Feghali (PCdoB), Alessandro Molon (PT), Chico Alencar (PSOL), Paulo Ramos (PDT), Filipe Pereira (PSC) e Vinícius Cordeiro (PTdoB) trocaram beijos, apertos de mão e provocações enquanto tomavam o café da manhã com salsichas, bacon e frutas.

Crivella e Paulo Ramos foram os primeiros a chegar. Depois de um rápido bate-papo, se separaram. A principal rodinha de conversa ocorreu no saguão do hotel, com Jandira, Crivella e Chico. Sem notar que estavam próximos de jornalistas, os adversários trocaram farpas. Franco atirador, o candidato do PSOL criticou Crivella - que chegou a beijar a mão de Jandira - por ter declarado que "clientelismo só ocorre quando há troca de voto por dinheiro, mas troca por serviço, não". Crivella não respondeu na hora, mas Jandira, segunda colocada nas pesquisas, logo interferiu:

- Ele (Chico Alencar) tem que bater em quem está na frente.

Aparentando certa irritação, Chico respondeu de bate-pronto.

- Estão na frente por quê? Vocês são mais altos do que eu na estatura, mas há 80% de indefinição nas pesquisas

- disse Chico, que ouviu, em seguida, a tréplica da comunista:

- Eu não valorizo pesquisa nenhuma nessa fase. A que vale é lá para o final. Sei disso como ninguém.

Depois de ouvir calado a discussão entre Jandira e Chico, Crivella resolveu se defender da declaração sobre clientelismo e troca de votos.

- Eu cansei de dizer que não é legítimo (o clientelismo), que o vereador comunitário é que é legítimo.

Já dentro do salão, a poucos minutos da abertura das Olimpíadas, Crivella classificou a rápida discussão como "lavagem de roupa suja".

- Esses encontros são sempre curiosos porque, embora adversários, não deixamos de ser companheiros de bancada. Houve, sim, no momento em que nos encontramos, aquela coisa de lavar roupa suja. Um perguntando para o outro "por que falou isso de mim?", essas coisas. Normalmente aqueles que aparecem com menos intenção de voto acabam criticando os que têm mais - disse o senador, que, após assistir ao show dos chineses, lembrou e lamentou "o deplorável incidente na abertura do Pan, quando foi organizada uma vaia para o presidente Lula".

Jandira disse que o papo também incluiu referência ao uso de pesquisas:

- Falei para ele (Crivella) que faz parte da guerra o uso das pesquisas. Tenho muita humildade em relação a elas e também um certo distanciamento das quantitativas. Não me surpreenderei com a dança dos números.

Crivella assistiu a apenas 22 minutos da abertura dos jogos. Longe de sua assessoria, ele ficou sentado ao lado de Jandira. Trocaram algumas palavras, mas a comunista preferiu conversar mais com um funcionário uniformizado da TV. Jandira disse que brincou com Crivella dizendo ser aquela a "mesa do segundo turno".

Para Chico, só faltaram as lágrimas:

- É um chororô só. Nem sabia que estavam incomodados com tantos questionamentos.

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