Título: Dólar sobe a R$1,62 com otimismo sobre EUA
Autor: Frisch, Felipe
Fonte: O Globo, 09/08/2008, Economia, p. 31

Preocupação agora é com Europa: euro recua no mundo todo. Bolsa brasileira cai, junto com "commodities"

Felipe Frisch

O dólar teve ontem seu quinto dia seguido de alta - subiu 1,07% -, acumulando valorização de 3,21% na semana e encerrando a semana a R$1,609. Durante o dia, a moeda americana chegou a bater R$1,625. Segundo analistas, uma das explicações é o movimento de investidores começando a acreditar numa recuperação da economia dos EUA no último trimestre do ano, ao passo que a expectativa para a Europa é de desaceleração. Isso enfraqueceu o euro e fortaleceu o dólar no mundo ontem.

No Brasil, desde novembro do ano passado, o dólar não subia por tantos dias seguidos. Na época, chegou a acumular alta de 4,32% e bater R$1,836. Já a moeda européia atingiu o menor nível em cinco meses, devido a temores de desaceleração na zona do euro. Em Nova York, o euro ficou em US$1,5013, uma queda de 2% frente aos US$1,5328 de quinta-feira. Durante o pregão, a moeda chegou a ser negociada a US$1,5004. Em relação ao pico, de 15 de julho, a US$1,6038, o euro já recuou mais de 6%.

- O euro está despencando devido aos números mais fracos da economia européia e com o Banco Central Europeu (BCE) preocupado com crescimento menor (como teria dado a entender na quinta-feira ao manter os juros em 4,25%). E a economia americana começa a dar sinais de retomada no último trimestre - diz Rafael Moysés, gestor da Umuarama.

O diretor executivo de câmbio da corretora NGO, Sidnei Moura Nehme, diz que uma demonstração de pressão pela alta do dólar é a mudança de posição dos investidores estrangeiros no mercado futuro de câmbio. Segundo dados da Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), eles têm reduzido suas aplicações em contratos de venda de dólar negociados na BM&F e aumentado o peso do lado da compra.

Normalmente, quem fica na ponta da venda acredita na queda ou quer se proteger dela. Na compra, fica quem aposta na alta, ou quer garantir proteção nesse caso. Ele avalia, ainda, que muitos estrangeiros aproveitam a alta internacional do dólar para remeter seus lucros ao exterior e aproveitar a valorização. Com isso, puxam a alta no Brasil.

Já as ações negociadas na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) voltaram a sofrer os efeitos das quedas internacionais das commodities (matérias-primas, como petróleo, minério de ferro e aço). Com a alta do dólar, grandes investidores trocaram as commodities pela moeda. O Ibovespa, principal indicador da Bolsa - em que, juntas, as ações de empresas que negociam matérias-primas têm peso de 43% -, encerrou o dia em queda de 0,76%, aos 56.584 pontos. As ações preferenciais (PNA, sem direito a voto) da Vale caíram 1,49% ontem, e as da Petrobras, 0,91%.

Bovespa tem volume financeiro abaixo de R$4 bi

O volume da Bolsa no dia também foi fraco: R$3,994 bilhões, abaixo da média do ano: R$6,098 bilhões. O mercado brasileiro ficou na contramão do mercado americano. O índice Dow Jones, da Bolsa de Nova York, avançou 2,65%, enquanto Nasdaq e S&P subiram 2,48% e 2,39%, respectivamente. Já o petróleo leve americano fechou com queda de 4%, a US$115,20 o barril. O Brent de Londres perdeu 3,8%, para US$113,33.

Com o otimismo, os investidores não deram atenção ao prejuízo divulgado pela Fannie Mae. A gigante das hipotecas Fannie Mae teve perdas de US$2,3 bilhões no segundo trimestre, devido ao aumento da inadimplência. O prejuízo por ação foi de US$2,54, muito acima dos US$0,68 esperados pelo mercado. As ações da empresa caíram 9% ontem.

(*) Com agências internacionais.