Título: Secretário do Tesouro dos EUA diz que crise vai muito além do fim do ano
Autor:
Fonte: O Globo, 11/08/2008, Economia, p. 16

Segundo Paulson, governo não vai injetar recursos em companhias hipotecárias

WASHINGTON. O secretário do Tesouro americano, Henry Paulson, disse ontem que o mercado imobiliário americano ficará deprimido até ¿muito além do fim do ano¿. E garantiu que o governo não tem planos de injetar recursos na companhias de crédito imobiliário Fannie Mae e Freddie Mac, que respondem por metade dos US$12 trilhões do mercado americano de hipotecas e, na semana passada, divulgaram resultados piores do que o esperado. Paulson também afirmou que não permanecerá no cargo após janeiro.

Há rumores de que o candidato republicano John McCain ou mesmo o democrata Barack Obama, caso seja eleito para a Casa Branca em novembro, poderia pedir a Paulson para permanecer no Tesouro e ajudar a acalmar a crise imobiliária e financeira que atinge a economia dos Estados Unidos.

¿Houve um excesso de liberalidade no sistema¿

Mas, em entrevista veiculada ontem na rede de TV americana NBC, e concedida ao vivo de Pequim, Paulson afirmou que fará tudo para ¿realizar uma transição suave, para trabalhar de perto¿ com o sucessor no Tesouro.

¿ Estou animado com a perspectiva de fazer outras coisas no próximo ano ¿ afirmou Paulson, acrescentando que ficará no cargo apenas até 19 de janeiro.

Paulson disse ainda que o presidente George W. Bush tem razão ao comparar a crise atual com uma ressaca. Recentemente, Bush disse que Wall Street ¿se embebedou e, agora, está de ressaca¿. Paulson criticou a pouca regulamentação dos mercados, que teria agravado a crise.

¿ Houve um excesso de liberalidade no sistema, além do apropriado e mais do que admitimos, porque essa liberalidade entrou no sistema na forma de produtos muito complexos, de difícil compreensão ¿ disse Paulson. ¿ Assim que houve um excesso de liberalidade, houve um excesso de complexidade ¿ acrescentou o secretário.

Mas o secretário do Tesouro afastou a necessidade de um novo pacote de estímulo à economia americana, lembrando que o alívio fiscal de US$168 bilhões aprovado em fevereiro já estimulou o consumo no segundo trimestre e continuará tendo efeito ao longo do ano. Congressistas democratas pedem um novo pacote, de cerca de US$50 bilhões.

¿ Vamos ver como este programa (de fevereiro) vai funcionar no terceiro trimestre ¿ disse Paulson à NBC, lembrando ainda que se preocupa que um novo pacote aumente ainda mais o déficit orçamentário dos Estados Unidos.

Paulson também refutou qualquer injeção de capital pelo governo na Fannie Mae e na Freddie Mac. Segundo ele, o prejuízo de US$2,3 bilhões anunciado pela Fannie Mae na sexta-feira passada não foi uma surpresa, frente às dificuldades que a empresa vem enfrentando.

No mês passado, o Congresso americano aprovou um pacote de ajuda a essas instituições que incluiu conceder ao Tesouro americano o direito de comprar ações da Fannie Mae e da Freddie Mac.

Fundamentos de longo prazo são favoráveis, diz Paulson

Para o secretário do Tesouro americano, os problemas financeiros das gigantes hipotecárias americanas reforçam sua avaliação de que a crise imobiliária é a maior ameaça à economia dos Estados Unidos. E essa crise não vai terminar rapidamente:

¿ Acredito que precisaremos ir bem além do fim do ano para conseguir lidar com os problemas imobiliários ¿ disse Paulson na entrevista.

Mas o secretário do Tesouro destacou que é importante mostrar aos investidores globais que os Estados Unidos estão resolvendo os seus problemas econômicos.

¿ As turbulências que estão afetando o nosso mercado de capitais hoje é diferente de outras do passado, porque a raiz da crise está nos Estados Unidos ¿ disse, acrescentando: ¿ Os fundamentos econômicos de longo prazo dos Estados Unidos, porém, são muito favoráveis.