Título: Polícia indicia vereador que Crivella chamou de iluminado
Autor: Bottari, Elenilce ; Tabak, Flávio
Fonte: O Globo, 13/08/2008, O País, p. 9

Novamente candidato, Deco é suspeito de homicídio

Elenilce Bottari e Flávio Tabak

O vereador e candidato à reeleição Luiz André Ferreira da Silva, o Deco (PR), foi indiciado, no dia 31 de julho passado, por homicídio em inquérito da 32ª DP (Taquara). Ele é suspeito de ter matado o policial militar Marcílio Barbosa Macedo e o professor de informática Washington Estevam Ribeiro num campo de futebol da Favela da Chacrinha, em Jacarepaguá, no dia 31 de dezembro de 2007. Deco também é investigado pela Polícia Civil por suspeita de envolvimento na milícia que controla a região.

O vereador faz parte da coligação do candidato do PRB a prefeito do Rio, Marcelo Crivella, que desfilou com Deco em carro aberto na Favela da Chacrinha no dia 29 de julho. Na ocasião, Crivella disse que o vereador era uma pessoa que "iluminava as trevas". Dias depois, o senador defendeu o candidato dizendo que não havia acusação alguma contra Deco.

Segundo as investigações, o crime foi motivado por uma discussão sobre a arrecadação de dinheiro do comércio na região. O policial Marcílio Barbosa não teria repassado corretamente os valores, desafiando Deco. Também foram indiciados Paulo Ferreira Júnior, conhecido como Paulinho do Gás; Luiz Monteiro da Silva, conhecido como Doen e candidato a vereador (PTC); João Monteiro da Silva, seu irmão; e Hélio Albino Filho, o Lica. Deco e Lica também já foram investigados pela 28ª DP (Campinho) em outro homicídio ocorrido em 2003.

Deco depôs e negou todas as acusações

Em seu depoimento, Deco negou todas as acusações. Disse também que nunca tinha visto Paulinho do Gás, tampouco ouvido falar da existência de milícias na região. Paulinho, no entanto, foi lotado, em 2007, no gabinete do vereador como auxiliar. Consta, nos autos do inquérito, a reprodução do crachá do indiciado pelo assassinato. Doen prestou depoimento ontem de manhã na delegacia e também negou qualquer participação no caso.

Policiais do 18º BPM (Jacarepaguá) encontraram os dois corpos na Estrada Arroio Pavuna no dia 1º de janeiro. De acordo com as investigações, as vítimas foram enforcadas e tiveram os corpos amarrados pelos assassinos no campo de futebol. Todos teriam participado da execução, exceto Doen. A delegacia também investiga outros homicídios na região com as mesmas características: corpos amarrados e enforcados.

No Tribunal Regional Eleitoral, Crivella foi condenado ontem por propaganda extemporânea. Ele e a Editora WD, responsável pela publicação da revista "Roteiro do poder", foram condenados a pagar 20 mil ufirs (R$36.516) por propaganda antecipada irregular. Distribuída em todo o estado, a edição apreendida pela Fiscalização da Propaganda Eleitoral trazia um artigo intitulado "Governo federal executa no Rio o PAC das favelas criado pelo senador Marcelo Crivella". O artigo afirmava que o senador era responsável pelas obras do Programa de Aceleração do Crescimento realizadas nas favelas do Rio.

A decisão foi do juiz de representação do TRE-RJ, Cezar Augusto Rodrigues Costa. Ao condenar Crivella e a editora, o juiz afirmou que ficou clara a propaganda antecipada irregular, que quebra o princípio de igualdade entre os candidatos beneficiando apenas um, por sinal experiente, que se presume tenha perfeita noção de que a conduta era proibida.

O juiz Luiz Márcio Pereira, coordenador estadual da fiscalização da propaganda eleitoral no Estado do Rio, já havia determinado a apreensão em bancas de jornal de todos os exemplares da edição de 2008 da revista.