Título: OMS cede a pressão
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 19/05/2009, Mundo, p. 22

Apesar do avanço da epidemia no Japão e do contágio elevado nos Estados Unidos, autoridade mundial de saúde adia alerta de pandemia a pedido de países como México e Brasil, que temem impacto econômico

´´O Brasil apoia uma revisão dos critérios. Já sabemos alguma coisa sobre o vírus e sabemos que a letalidade está em queda`` José Gomes Temporão, ministro da Saúde do Brasil O Japão atingiu ontem a marca de 163 casos confirmados de gripe suína, e a maioria dos pacientes contraiu a doença no próprio país. Como medida de contenção, o governo japonês ordenou o fechamento de 2 mil escolas e cancelou vários eventos públicos. O avanço rápido do vírus A H1N1 no país asiático levou os especialistas reunidos ontem em Genebra, na Assembleia Geral da Organização Mundial de Saúde (OMS), a discutirem se já não seria o momento de decretar o alerta de nível 6 (pandemia em marcha), uma vez que a doença já registraria ¿contágio sustentável¿ em mais de um país e mais de uma região do mundo, o que tecnicamente caracteriza uma pandemia.

No entanto, a diretora-geral da OMS, Margaret Chan, cedeu à pressão política e preferiu não declarar ainda a elevação do alerta para a gripe suína. O nível 5, declarado em 30 de abril, sinaliza ¿pandemia iminente¿ e equivale a dizer que a enfermidade se mantém restrita a alguns países de uma só região ¿ no caso, a América do Norte. Os representantes do México, Brasil, Japão, Reino Unido, China e de países árabes, entre outros, pediram uma mudança nos critérios que embasam a escala de risco, para levar em conta também a letalidade da doença. ¿O Brasil apoia a revisão dos critérios¿, afirmou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão. ¿Já sabemos alguma coisa sobre o vírus e sabemos que a letalidade está em queda.¿

Esses países receiam que a declaração de pandemia de gripe suína crie prejuízos econômicos e políticos para os países afetados. Apesar de liderarem a lista dos países com maior número de casos confirmados (5.123, até ontem), os Estados Unidos foram mais pragmáticos e lembraram que, com ou sem declaração de pandemia, o vírus continuará a se espalhar pelo mundo.

Com isso, a discussão sobre o nível de alerta para a nova gripe promete continuar nos próximos dias. A reunião anual da OMS costuma durar cinco dias, e a deste ano conta com a participação de especialistas em saúde pública de 193 países. Chan indicou ontem que a OMS também precisa decidir se deve pedir à indústria farmacêutica para começar a fabricar uma vacina.

Independentemente dos pedidos da organização internacional, vários países estão avançando nas pesquisas em busca de uma imunização eficaz. Na sexta-feira, uma equipe de cientistas da Coreia do Sul, liderada pelo professor Seo Sang-heui, da Faculdade de Veterinária da Universidade Nacional de Chungnam, declarou ter criado a primeira vacina para gripe suína. Eles avaliam que a vacina poderá ser comercializada dentro de quatro meses, após testes em humanos.

A equipe sul-coreana se dispõe a oferecê-la gratuitamente aos laboratórios e à indústria farmacêutica, que poderia vendê-la por 3,50 euros (R$10) por dose. Temporão sustentou que o Brasil está comprometido com a partilha de informações. ¿Os dados devem ser tratados como bem público da comunidade internacional¿, afirmou o ministro. ¿A rápida propagação da nova gripe mostra que a saúde é definitivamente um problema global e exige respostas coordenadas.¿

Mutação Os cientistas e ministros da Saúde de vários países, inclusive do Brasil, ressaltaram o receio de que o vírus sofra nova mutação. Segundo Chan, a cepa H1N1 pode oferecer risco particular caso passe por recombinação com o vírus H5N1, causador da gripe aviária ¿ que atinge os pulmões de maneira grave e brusca, mas até hoje não se mostrou adaptado ao contágio de pessoa a pessoa, ao contrário do vírus da gripe suína. A diretora da OMS também afirmou que é difícil prever por quanto tempo os casos continuarão aumentando diariamente ¿ ontem, a OMS contabilizava mais de 8.800 pessoas infectadas em 40 países.