Título: Brigas e ataques no Conselho de Ética da Câmara
Autor: Braga, Isabel; Alencastro, Catarina
Fonte: O Globo, 14/08/2008, O País, p. 11

Deputado Sérgio Moraes disse que é desconfortável julgar colegas; conselheiros reagiram duramente à declaração

Isabel Braga e Catarina Alencastro

BRASÍLIA. Dois meses depois de assumir o cargo dizendo que não seria pautado pela imprensa nem tinha pressa em acelerar processos contra colegas, o presidente do Conselho de Ética da Câmara, Sérgio Moraes (PTB-RS), disse que é uma situação desconfortável julgar os colegas. Sua afirmação provocou tumulto e bate-boca no conselho, onde alguns já admitem, nos bastidores, que ele pode perder as condições de continuar no comando do colegiado.

No início da sessão fechada de ontem para ouvir o delegado Rodrigo Levin - que comandou a Operação Santa Tereza, sobre desvio de recursos repassados pelo BNDES e que acabou investigando o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) -, o deputado José Carlos Araújo (PR-BA) cobrou explicações de Moraes sobre notícia de que teria defendido a extinção do conselho. Moraes negou que tivesse pregado o fim do conselho, mas reafirmou que é desconfortável julgar colegas. Citou o caso Paulinho, alegando que os conselheiros não tinham o direito de exibir provas do processo que corre em segredo de Justiça.

- O melhor seria que os casos julgados pela PF fossem julgados primeiro lá e depois aqui - disse Moraes, insistindo que os deputados podem cometer injustiças.

Araújo interpelou Moraes, afirmando que ele incorria em erro, porque não se deve confundir julgamento civil e criminal com o julgamento ético que é feito pelos pares:

- Eu me senti desconfortável com suas declarações. Votamos em vossa excelência para a presidência. Como é que vossa excelência é o primeiro a pedir a extinção do conselho?

Começou, então, um desentendimento entre Moraes e José Carlos Araújo, que falavam ao mesmo tempo. Outro conselheiro interveio, com mais uma estocada no presidente:

- Sérgio, você tem que evitar a imprensa. Cada vez que você fala, é um desastre. Nem tudo o que é direito é ético. Nem todo ato que é legal é ético, e aqui apuramos a ética. Como presidente do conselho, tem que ter cuidado - alertou o deputado Dagoberto (PDT-MS).

Moraes respondeu:

- O que o senhor quer é a mídia. Foquem nele, o que ele quer são os holofotes - disse, dirigindo-se aos jornalistas.