Título: Dantas acusa PF e levanta suspeitas
Autor: Suwwan, Leila
Fonte: O Globo, 14/08/2008, Economia, p. 25

Na CPI do Grampo, empresário diz que delegado da PF quer investigar filho de Lula

Leila Suwwan

BRASÍLIA. Apesar de ter ganho do Supremo Tribunal Federal (STF) o direito de ficar calado, Daniel Dantas, dono do Opportunity, acionou uma metralhadora giratória de insinuações durante as mais de cinco horas de depoimento, ontem, à CPI do Grampo. Acompanhado de seis advogados e uma mala azul com documentos, ele levantou suspeitas de pagamento de propina e de interferências políticas na disputa pela Brasil Telecom (BrT) e afirmou que o delegado da Polícia Federal Protógenes Queiroz, responsável pela Operação Satiagraha - que o prendeu - tem a intenção de investigar Fábio Luiz, filho do presidente Lula, por envolvimento no imbróglio da telefonia.

Em sua opinião, a Operação Chacal, de 2004, embrião da Satiagraha, foi "montada" para frear a investigação que a Kroll fazia sobre o paradeiro de milhões de dólares que teriam sido desviados na BrT pela Telecom Italia - da qual Dantas foi sócio na BrT - para pagar a compra da operadora de telefonia gaúcha CRT.

Dantas negou o uso de grampos ilegais no caso e sustentou que há provas, em processo que tramita na Procuradoria Federal de Milão, de que a Telecom Italia usou grampos para investigar seu grupo:

- Essa operação foi montada, articulada e encomendada para sustar a investigação da Kroll. Concomitante a isso, há informação de 25 milhões de propina no Brasil (a parlamentares e autoridades). Minha interpretação é que a Kroll estava próxima de achar para onde estavam indo esses recursos. Essa celeuma que foi criada em cima disso teve efeito, que era parar a investigação da Kroll.

Com ironia - convidou a CPI a enviar um avaliador de paredes para constatar que seu apartamento não tem um fundo falso -, Dantas não enfrentou resistência consistente para colocar sob os holofotes teses como a de que o ex-diretor da PF Paulo Lacerda, atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), "armou" a Satiagraha para "colocar um par de algemas" nele. Suspeita-se que o banqueiro seja a fonte de reportagens que apontavam a existência de dinheiro ilegal de Lacerda no exterior.

- O Protógenes me recomendou que não falasse mais com a imprensa, que isso não está ajudando. E que não tentasse trazer o material lá da Itália porque já tinha sido apurado e não tinha nada e que vai investigar a fusão da BrT-Oi. O Protógenes disse que também ia investigar os filhos do presidente Lula.

Questionado pelo deputado Nelson Pellegrino (PT) sobre a citação, reafirmou:

- Ele disse que ia apurar a operação BrT-Oi envolvendo o filho do presidente Lula e também disse que ia até o fim - disse Dantas, sem fazer referência à empresa de jogos eletrônicos Gamecorp, da qual Fábio Luiz é sócio e que recebeu R$5 milhões da Oi (ex-Telemar).

Dantas negou ter conhecimento sobre a tentativa de suborno de um delegado da PF, acusação que recai sobre Humberto Braz, ex-presidente da Brasil Telecim Participações. E disse que contratou o ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP) para ser um "negociador" com os fundos de pensão, na tentativa de obter um acordo na briga societária.

- Dantas deu seus recados de forma calculada. Seguiu um roteiro e abriu o caminho para a CPI investigar questões até do filho do presidente Lula - avaliou o deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR).

Por meio de nota, a Kroll refutou categoricamente as declarações e acusações de que a empresa realizava "escutas telefônicas clandestinas" em 2004. A Telecom Itália, também por meio de comunicado, negou as acusações feitas por Dantas durante seu depoimento na CPI. Segundo a nota, a "atual diretoria da Telecom Itália está tomando as medidas necessárias para pleno esclarecimento dos fatos à sociedade".

O deputado Raul Jungmann (PE) entregará hoje pedido de acareação entre Dantas e Protógenes Queiroz à CPI.

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