Título: EUA reagem à invasão da Geórgia
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 14/08/2008, O Mundo, p. 27

Rússia rompe cessar-fogo, Bush envia Condoleezza a Tiblisi, e ela adverte Moscou: `Não estamos em 1968¿

Vivian Oswald

Menos de 12 horas depois de aceitar um acordo com a Geórgia para dar fim ao conflito entre os países, a Rússia quebrou ontem o cessar-fogo, tomou a estratégica cidade de Gori e mobilizou uma coluna de tanques, que avançou profundamente no território georgiano e se aproximou da capital, Tbilisi. A movimentação dos militares russos elevou o tom das declarações de Washington e Moscou: os EUA exigiram uma retirada russa e anunciaram que militares americanos estavam a caminho da Geórgia para levar ajuda humanitária. A Rússia, por sua vez, afirmou que a Casa Branca deve escolher se pretende apoiar um lado ou outro no conflito.

Ontem de manhã, o presidente dos EUA, George W. Bush, disse ter conversado por telefone com o presidente da Geórgia, Mikhail Saakashvili. Ao lado do secretário de Defesa, Robert Gates, e da secretária de Estado, Condoleezza Rice, ele anunciou que um avião de transporte militar C-17 com ajuda humanitária já estava a caminho da Geórgia ¿ ele chegou no país à noite. O auxílio seria entregue por militares do Exército e da Marinha dos EUA, que exigiram da Rússia a abertura de uma passagem para chegar ao país.

¿ A Rússia tem que manter sua palavra e agir para dar um fim a essa crise ¿ exortou Bush.

O presidente anunciou que Condoleezza partiria ainda ontem para Tbilisi, numa demonstração de apoio ao governo georgiano. A secretária de Estado, que antes passará por Paris para se encontrar com o presidente Nicolas Sarkozy, fez duras declarações contra o Kremlin, citando os relatos de avanços russos dentro da Geórgia.

¿ Não estamos em 1968, quando se podia invadir capitais de países europeus e ficar impune ¿ disse ela, que fez carreira acadêmica como especialista em União Soviética antes de se tornar chefe da diplomacia dos EUA, numa referência à Primavera de Praga, quando tanques russos reprimiram uma tentativa de rebelião dentro do regime comunista tchecoslovaco. ¿ Os tempos mudaram. A Rússia ultrapassou os limites, e não pode atacar portos e aeroportos e civis. Não pode destruir o Estado georgiano.

Moscou, por sua vez, reagiu. O chanceler russo, Sergei Lavrov, disse que Washington tem que decidir de que lado ficará no confronto:

¿ Compreendemos que a Geórgia represente um projeto especial para os Estados Unidos. Mas um dia Washington terá que escolher entre o apoio a um projeto virtual e a aliança real sobre questões que necessitam verdadeiramente de ações coletivas.

Coluna de tanques em direção à capital

Apesar de o tom das declarações ter aumentado, a Casa Branca teve o cuidado de negar algumas afirmações de Saakashvili, que, minutos após o anúncio de envio de ajuda americana, disse que ¿os portos e aeroportos georgianos estariam seguros¿:

¿ Este é o ponto da virada.

Condoleezza negou:

¿ Os EUA não controlarão bases. Só enviamos auxílio humanitário.

No front militar, tanques russos foram vistos por jornalistas na cidade georgiana de Gori, a 75 quilômetros de Tbilisi. Houve relatos de saque em várias partes de Gori. Depois, uma coluna de dezenas de carros blindados e de transporte foi vista na estrada que liga Gori a Tbilisi, levantando denúncias de Saakashvili de que Moscou iniciava um cerco à capital de seu país.

Segundo o governo russo, o avanço de suas tropas não fere o acordo assumido terça-feira diante de Sarkozy, que ocupa também a presidência da União Européia. O avanço serviria apenas para ¿desmilitarizar¿ a região da Ossétia do Sul, o que seria permitido segundo o texto do acordo.

¿ Um depósito cheio de tanques foi encontrado, e foram tomadas as ações necessárias para desmilitarizar a zona. Como não podemos confiar no governo georgiano, não podemos permitir que haja um grupo de tanques próximos da Ossétia do Sul ¿ disse Dmitry Peskov, porta-voz do governo russo.

Quatro navios georgianos foram afundados por uma frota russa que bloqueia a costa do país. Na Abcásia, outra região separatista, as tropas georgianas foram expulsas por milicianos. Tbilisi confirmou, acusando a Rússia de ter auxiliado os abcásios.

*Com agências internacionais