Título: Viva, Tbilisi parece não acreditar em ataques
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 14/08/2008, O Mundo, p. 28

Viva, Tbilisi parece não acreditar em ataques

Capital georgiana está cheia e movimentada, embora lojas fechem mais cedo. Já nos arredores, há clima de pavor

Vivian Oswald

TBILISI. A entrada em território georgiano pela fronteira terrestre a partir da Armênia mostra que a tensão está no ar. É preciso mostrar o passaporte em três momentos diferentes e a travessia de um país para outro deve ser feita a pé por quem não está dirigindo. Motoristas de táxi usam o clima de guerra para extrair o máximo que podem dos estrangeiros que chegam sem parar, em sua maioria jornalistas. Já no aeroporto de Yerevan, a capital armênia, há longas filas de motoristas oferecendo serviços diretamente até a capital georgiana. Outros se propõem a deixar os passageiros na fronteira, onde garantem haver taxistas georgianos à espera de novos clientes. Os guardas dos dois lados reconhecem que o dia ontem foi mais tranqüilo, mas que ainda há muitos boatos e a situação é incerta.

Do lado armênio, o policial de fronteira diz não ter tempo sequer de acompanhar as Olimpíadas, tamanho o movimento de georgianos entrando no país vizinho.

Em cidades vizinhas, moradores deixam suas casas

A caminho de Tbilisi, o taxista mostra o pequeno aeroporto militar destruído pelos russos no início dos conflitos. Na capital, a população procura levar uma vida normal. Mas bancos e lojas fecham horas mais cedo, desde que o Parlamento decretou o ¿estado de guerra¿. Nem mesmo as casas de câmbio dos hotéis funcionam depois de certo horário. Se normalmente agosto é um mês mais pacato em Tbilisi ¿ a maioria das pessoas aproveita o verão para sair de férias ¿ neste momento os hotéis estão lotados. E cobram caro por isso. Os saguões são uma verdadeira Babel de jornalistas de todas as mídias. Cafés e restaurantes da cidade também seguem com movimento à noite.

Mais de cem policiais fazem a segurança da área do palácio do governo, no centro da capital. Há outros espalhados pela cidade. Mas, no fim da noite de ontem, após uma manifestação de moradores da cidade de Gori, nas proximidades da Ossétia do Sul, bombardeada e parcialmente destruída durante os conflitos, trocavam mensagens de celular ou conversavam animadamente sentados sobre muretas. Enquanto isso, dezenas de jornalistas ocupavam as calçadas com câmeras, fios e carros de filmagem.

Governo tem sistema de alerta com SMS para imprensa

Os rumores de que as tropas russas estariam se aproximando da capital ontem apavoraram a população. Nas proximidades de onde teriam passado os tanques, a 50 quilômetros de Tbilisi, o movimento de carros de moradores que deixava sua casas foi intenso. Mas, na capital, é como se não acreditassem na possibilidade de um ataque. Na verdade, nem mesmo o governo parece contar com esta hipótese. Não há um plano de evacuação, nem estrutura organizada para atender a imprensa. O que existe é um sistema que se apelidou de ¿alerta SMS¿ ¿ para os jornalistas que deixam um número de celular com a assessoria de imprensa ¿ mas que só é acionado em caso de grandes movimentações. O governo diz poder usar o sistema de metrô como refúgio em caso de bombardeio. Mas reconhece que seria insuficiente para atender a todos.

Há dez dias, apesar de as relações entre a Geórgia, a Ossétia do Sul e a Rússia terem se deteriorado como nunca nos últimos anos, não se cogitava uma guerra no país. Embora não tenha havido desabastecimento, a tensão levou motoristas a longas filas em postos de gasolina.

¿ Tenho medo, às vezes, mas depois tento me convencer de que nada vai acontecer. Até ontem (anteontem) estava apavorada. Mas com a promessa do cessar-fogo, comecei a relaxar um pouco mais ¿ conta a dona de casa, Maria Khachidze.

¿ Deu para ouvir o barulho de bombas à distância no sábado passado. Tive vontade de sair daqui, mas para ir para onde? Tenho que trabalhar. ¿ disse o estudante Nino Salukvadze.