Título: Ultra fisga mais um
Autor: Novo, Aguinaldo
Fonte: O Globo, 15/08/2008, Economia, p. 29

Grupo compra postos Texaco no país por R$1 bi e ameaça liderança da BR no Sudeste

Aguinaldo Novo

Pouco mais de um ano depois de arrematar parte dos ativos da Ipiranga, o Grupo Ultra deu ontem mais um passo na disputa pelo mercado nacional de distribuição de combustíveis, esquentando a briga com a BR Distribuidora, líder do setor. Por R$1,161 bilhão, o grupo brasileiro comprou da americana Chevron a rede Texaco no país, composta por 1.953 postos e 48 bases de operação. Com o negócio, que ainda precisa passar pelo crivo dos órgãos de defesa da concorrência, o Ultra passará a ter 5.245 postos, e sua participação nas vendas totais de combustíveis vai saltar de 14% para 23%. Hoje, a fatia da BR no mercado é de 34,43%.

Segundo os dados informados pela companhia, o Ultra vai dividir com a BR a liderança do mercado nas regiões Sul e Sudeste do país, com participação de 28% cada. Nos estados do Centro-Oeste, Norte e Nordeste, a corrida ainda vai continuar desigual: ficará com 9% das vendas, contra 52% da subsidiária da Petrobras responsável pela distribuição de derivados.

- A classe média está crescendo e se espalhando pelo país. É um círculo virtuoso - afirmou o presidente do Ultra, Pedro Wongtschowski, de olho na explosão de vendas de carros novos e, por tabela, dos combustíveis.

Na operação de compra da Ipiranga, feita em parceria com a própria Petrobras, o Ultra ficou com os ativos no Sul e Sudeste, onde a BR Distribuidora já tem grande concentração de mercado. Agora, com a Texaco, o grupo privado também vai colocar um pé nas demais regiões do país, cuja taxa de crescimento de vendas tem ficado acima da média nacional.

Marca poderá ser usada por 5 anos

No primeiro semestre, as empresas do setor contabilizaram um aumento de 11% no volume de venda de combustíveis - gasolina, álcool, diesel e gás natural veicular (GNV) -, na comparação com o mesmo período de 2007. No Centro-Oeste, Norte e Nordeste, que respondem por cerca de 30% da demanda no país, o crescimento chegou a 14%. Já no Sul e no Sudeste, a média foi de 10%.

Perguntado sobre o interesse em adquirir outras companhias, Wongtschowski respondeu que já chegou "a um tamanho adequado para as condições do mercado". Segundo ele, dos 35 mil postos em funcionamento no país, 15 mil não estão ligados a qualquer grande rede de distribuição (são de "bandeira branca") - e muitos atuam de forma irregular.

- A Texaco era a melhor opção de negócio. Não vejo mais outra opção que possa mudar radicalmente o setor. A tendência é que os postos de "bandeira branca" sejam paulatinamente absorvidos, porque não sobreviverão num ambiente de maior formalização.

Em nota, o presidente de Marketing Global da Chevron, Shariq Yosufzai, disse que a venda da Texaco - marca presente no país desde 1915 - não significará a saída da empresa do Brasil. "Vamos continuar presentes, concentrados nas operações de lubrificantes e prospecção e exploração de petróleo" disse o executivo. A empresa informou que "a venda dos ativos de distribuição de combustíveis faz parte da estratégia da companhia de concentrar recursos e capital em ativos de interesse global integrados."

A venda da Texaco foi o quarto grande negócio anunciado desde o ano passado pelas empresas brasileiras. Em março de 2007, Petrobras e Ultra dividiram a Ipiranga. Em abril passado, a Cosan - um dos maiores produtores de açúcar e etanol do mundo - entrou no mercado de distribuição de combustíveis, ao comprar os ativos da Esso. Na semana passada, a Petrobras, que havia perdido a corrida pela Esso no Brasil, comprou a operação da rede no Chile por US$400 milhões.

A estratégia recente das multinacionais do setor tem privilegiado a exploração e produção do petróleo, num cenário mundial de alta de preços. As empresas estão deixando o segmento de distribuição sobretudo em países onde o preço dos combustíveis oscila menos - como no caso do Brasil.

O pagamento do R$1,161 bilhão deverá ser feito no início de 2009, para quando está prevista a conclusão da separação da distribuição da Chevron dos negócios de exploração de petróleo da empresa no Brasil. O preço acertado entre os dois grupos inclui também a licença para usar a marca Texaco por até cinco anos. O Ultra afirmou que os recursos sairão do próprio caixa da empresa e que isso não afetará a relação entre endividamento e fluxo de caixa (Ebitda). Com a compra da Texaco, o faturamento anual do Ultra, que atua também nas áreas química e de logística, irá de R$26 bilhões para R$38 bilhões.