Título: Dramalhão na Câmara
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 21/05/2009, Política, p. 4

Deputado do castelo ataca corregedor e se diz perseguido pelo DEM. O ex-relator que se lixa para opinião pública saiu de cena

Edmar Moreira (C) parte para o ataque: ¿O deputado ACM Neto é o meu algoz, meu perseguidor¿ A reunião do Conselho de Ética para ouvir o deputado Edmar Moreira (sem partido-MG) teve cenas de novela mexicana. Encenação de choro, evocação de problemas de saúde, honra familiar, bandido contra mocinho e até viúva traída. O roteiro teve como protagonistas Moreira, o corregedor da Câmara, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM-BA), o presidente do colegiado, José Carlos Araújo (PR-BA) e o deputado Sérgio Moraes (PTB-RS). Os coadjuvantes foram a deputada Solange Amaral (DEM-RJ), o advogado e os dois filhos do deputado mineiro. O relator do processo, Nazareno Fonteles (PT-PI), ficou como mero figurante. Todos representaram bem os papéis determinados.

O embate entre Moreira e ACM Neto acabou se tornando o ápice da trama. O deputado buscou, nas duas horas que teve para se defender, desclassificar a peça de acusação da Corregedoria. Adjetivos não faltaram: incorreto, irregular, ilegítimo e pseudorrelatório. ¿O deputado ACM Neto é o meu algoz, meu perseguidor. Por isso, peço para tornar nulo todos os atos feitos por meu algoz por ter ódio e sede de vingança¿, disse Moreira.

ACM Neto não participou da reunião do Conselho. Ouviu tudo de seu gabinete. Mas não se furtou em contra-atacar. Pediu ajuda até do líder do DEM, Ronaldo Caiado (GO) e do presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP). ¿O deputado Edmar Moreira partiu para o ataque porque não tem argumentos para apresentar. Mas não fiquei ofendido, teria ficado se os ataques tivessem partido de outro parlamentar com credibilidade¿, disparou. No plenário, Temer pediu um aplauso pelos trabalhos de ACM Neto frente à Corregedoria.

As farpas entre os dois foram estimuladas pelo deputado que se lixa para a opinião pública, Sérgio Moraes (PTB-RS). Agindo em todo o momento como defensor de Moreira, Moraes fez jus ao episódio que levou ao afastamento da relatoria por antecipar intenção de arquivar as acusações. Foram dele as palavras mais contudentes em favor da leitura da parte da peça de defesa que Moreira se dedicava à atacar ACM Neto. ¿Vamos deixar ele ler para não ficar caracterizado o cerceamento de defesa. O senhor, presidente, deu a palavra a ele e agora deve mantê-la¿, afirmou Moraes. Desconcertado com tamanho libelo, José Carlos Araújo até se confundiu: ¿Com a palavra o deputado Edmar Moreira, desculpa, o deputado Sérgio Moraes.¿ Como viúva traída, Moraes disse ter desistido de voltar à relatoria, quer ser apenas conselheiro.

Perseguição O deputado gaúcho também acabou, indiretamente, estimulando outro embate. Edmar Moreira valeu-se de igual defesa feita pelo petebista na semana passada para solicitar o afastamento dos integrantes do DEM do colegiado, os acusando de perseguição partidária. A crítica foi direcionada a ACM Neto e a deputada Solange Amaral (RJ). O pedido foi rejeitado por Araújo.

Mas não foi só raiva que o deputado dono do castelo milionário no interior de Minas, acusado de injetar R$ 230,6 mil de dinheiro público nas próprias empresas de segurança privada, demonstrou. Ele se emocionou ao falar do pai e sempre que pôde sustentou que a honra de sua família estava em jogo por ¿90 dias de achincalhamento público¿. ¿É castelo de manhã, de tarde e de noite¿, disse. E alegando problemas de saúde e fadiga incumbiu o advogado Sérgio dos Santos de ler parte do documento que havia preparado como defesa. Moreira estava acompanhado pelos dois filhos Júlio e Leonardo, esse último, deputado estadual em Minas Gerais. A sessão para ouvir o parlamentar teve de ser encerrada e convocada para a próxima terça-feira, quando entrará em cena o relator Nazareno Fonteles. Edmar Moreira disse que não pretende comparecer por considerar sua defesa encerrada.