Título: Tbilisi há séculos é alvo da cobiça dos vizinhos
Autor: Oswald, Vivian
Fonte: O Globo, 18/08/2008, O Mundo, p. 23
Posição estratégica faz da capital georgiana centro de distribuição de petróleo, atraindo investidor estrangeiro
Vivian Oswald
TBILISI. Exatamente onde Ásia e a Europa se encontram, a capital georgiana Tbilisi sempre foi alvo da cobiça da vizinhança. Por muito tempo foi importante centro da rota da seda, a meio caminho entre a China e o mercado europeu. Desde que a Geórgia se tornou um país independente, logo após o colapso da União Soviética, a idéia era fazer Tbilisi retomar sua relevância histórica e virar uma espécie de ¿Canal de Suez continental¿.
Recentemente, a capital ganhou a atenção da mídia internacional por se apresentar como única alternativa do Ocidente para trazer petróleo e gás da Ásia Central sem ter de passar pelo território da Rússia, que monopoliza os canais de distribuição atuais, e é considerada um fornecedor pouco confiável. O oleoduto Baku-Tbilisi, Ceyhan (BTC) passa por baixo da capital e é resultado de investimentos bilionários do Ocidente. Rende cerca de US$50 milhões em royalties por ano. Há ainda outro projeto de oleoduto que não saiu do papel.
Esta nova função e o conjunto de reformas liberais promovidas nos últimos anos levaram Tbilisi a se destacar na região do Cáucaso. De acordo com o índice ¿Fazendo negócios¿, do Banco Mundial, a Geórgia é hoje o 18º país do mundo com ambiente favorável para se abrir um negócio.
Embora ainda tenha problemas neste quesito, o país que exibia até pouco tempo índices africanos de corrupção, ocupa hoje a 79ª posição no ranking da ONG Transparência Internacional. Os vizinhos Armênia e Azerbaijão estão na 99ª e 150ª, respectivamente, de um total de 179 países.
Setor imobiliário tem forte crescimento
Desde o século XIX, Tbilisi é o centro do sistema de rodovias e ferrovias da região do Cáucaso ¿ posição que foi reforçada durante o período soviético ¿ que liga a capital georgiana ao Mar Negro, à Rússia, à Armênia, ao Azerbaijão e à Turquia. Tbilisi foi uma das primeiras cidades da União Soviética a contar com sistema de metrô.
Tudo isso tem aumentado o apetite de investidores pela capital. Recentemente, vários bancos grandes estrangeiros se instalaram no país. A maioria comprou os nacionais postos à venda num grande programa de privatização. O setor imobiliário tem crescido a olhos vistos, com fortes investimentos estrangeiros, assim como a área de infra-estrutura. O maior porto do país foi comprado recentemente por um grupo árabe.
Historicamente, o país também foi um centro cultural importante. Reuniu população de várias etnias. A comunidade armênia, por exemplo, teve forte influência sobre a capital georgiana.
Quando os russos conquistaram a região, houve uma imigração em massa da população armênia que fugia da perseguição do Império Otomano e da Pérsia. Nesta época, os armênios chegaram a constituir cerca de 40% dos habitantes de Tbilisi e, com o passar dos anos, ocuparam funções importantes na política.
Hoje, os georgianos representam 80% da população. Mas os armênios ainda detêm uma parcela importante do comércio local. O vendedor de tapetes Rudolf Avdalinov tem a mesma loja há três anos na principal avenida da cidade. Ele conta que a imigração armênia vem de longa data e que se sente um georgiano.
Avdalinov chegou a sair portando uma imensa bandeira da Geórgia na manifestação de apoio ao presidente Mikhail Saakashvili que reuniu cerca de 50 mil pessoas no centro da cidade durante os conflitos com a Rússia.
¿ Nasci em Tbilisi e tenho meus negócios aqui. Não penso em deixar a Geórgia. Os armênios chegaram aqui há muitos séculos e vivem muito bem junto com as outras etnias ¿ afirma o vendedor.