Título: Dantas volta a criticar conduta de Protógenes
Autor: Rodrigues, Lino
Fonte: O Globo, 15/08/2008, Economia, p. 32
Segundo procurador, depoimentos deixam claro que delegados foram vítimas de suborno por parte do empresário
Lino Rodrigues
SÃO PAULO. O empresário Daniel Dantas, dono do Opportunity, voltou a fazer insinuações sobre a conduta do delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal, que comandou a Operação Satiagraha e o levou à prisão por duas vezes. Dantas acompanhou ontem, na sede da Justiça Federal, os depoimentos das testemunhas de acusação no processo em que é acusado de tentativa de suborno. Já o procurador da República Rodrigo de Grandis, que acompanha o caso, afirmou que ficou claro, durante os depoimentos, que os delegados da PF foram vítimas de tentativa de suborno a mando de Dantas.
O empresário, que chegou por volta das 10h no prédio da Justiça Federal e saiu pouco antes das 22h, deu a entender que Protógenes, um dos depoentes, estaria agindo segundo interesses de áreas do governo que desde a posse do presidente Lula foram contrários à sua participação no controle da Brasil Telecom (BrT).
- Não espero nada. Ele (Protógenes) tem um objetivo que, acho, não é pessoal - disse Dantas.
Perguntado sobre qual seria o objetivo, emendou:
- Acho que ele quer criar dificuldade.
Os advogados de Dantas arrolaram oito novas testemunhas para o processo, entre elas o senador Heráclito Fortes (DEM-PI).
O ex-presidente da Brasil Telecom Participações, Humberto Braz, e o professor universitário Hugo Chicaroni, que participaram diretamente da suposta tentativa de suborno do delegado Vitor Hugo Rodrigues Alves, da PF, e como Dantas, são réus no processo, também foram ao tribunal ontem. Nenhum deles, entretanto, quis se pronunciar diante do juiz Fausto de Sanctis, da 6ª Vara Criminal Federal, antes do início dos interrogatórios.
Além de Protógenes, depuseram como testemunhas de acusação o próprio delegado Vitor Hugo e o escrivão do setor de inteligência da PF, Amadeu Ranieri, que participou das investigações da Satiagraha. Vitor Hugo depôs por mais de três horas. O depoimento de Protógenes começou por volta de 16h30m e foi até 20h30m. Ele foi interrogado primeiro por De Sanctis. Em seguida, respondeu a perguntas de Grandis. Por último, foi a vez de os advogados dos réus questionarem-no.
Comemorando o habeas corpus obtido ontem por seu cliente junto ao Supremo Tribunal Federal, a advogada de Chicaroni, Maria Fernanda Carbonelli Muniz, também voltou a acusar Protógenes de ter se valido da amizade com o professor universitário para usá-lo como "isca" e armar o flagrante em que ele e Braz, filmados num restaurante, oferecem dinheiro a Vitor Hugo para que Dantas fosse excluído das investigações. A defesa entrou com pedido de quebra de sigilo telefônico de Protógenes e Vitor Hugo.
- Foi um flagrante preparado. Não estamos falando de armadilha. Mas foi uma provocação de um agente estatal - disse a advogada.