Título: Cabral volta a criticar o chefe do Exército no Rio, que reage ao ataque
Autor: Menezes, Maiá; Maduell, Itala
Fonte: O Globo, 17/08/2008, O País, p. 4

General diz que pedido de tropa feito no passado não tinha amparo na lei

Maiá Menezes e Itala Maduell

À espera das tropas do Exército que reforçarão a segurança no processo eleitoral no Estado do Rio, o governador Sérgio Cabral voltou ontem a criticar o comandante militar do Leste, general Luiz Cesário da Silveira Filho, que, por meio de nota, rebateu as críticas do governador, dizendo que os pedidos de reforço feitos anteriormente por Cabral não tinham amparo na lei.

- Infelizmente, com o general Cesário as coisas não andam. Eu trabalho com quem quer parceria, e com quem não quer não fico me lamentando - afirmou Cabral, repetindo o que dissera na véspera: - Das três forças, nós temos tido com a Marinha e com a Aeronática uma excepcional convivência. Com o Exército, temos tido excelente convivência em nível federal, com o general Enzo (Peri) e com alguns generais do Rio. Mas, infelizmente, com o comandante militar do Leste não é uma relação que eu diria de parceria. Ele não tem sido um comandante proativo nas ações e nas parcerias com o governo.

Cabral reclama que desde o ano passado vem pedindo ao Comando Militar do Leste reforço para o policiamento das áreas próximas aos batalhões. Mas a insatisfação do governador teria atingido o ápice com a ação que resultou no assassinato de três jovens do Morro da Providência, em junho.

Pedidos encaminhados ao Comando do Exército

O general reagiu às críticas ontem. Em nota divulgada pelo Centro de Comunicação Social do Comando Militar do Leste (CML), ele argumenta que "não é competência legal do comandante militar do Leste autorizar o emprego de tropa do Exército na segurança pública". Sobre os pedidos anteriores do governador, afirma que "foram encaminhados ao Comando do Exército e não puderam ser atendidos por falta de amparo legal".

O comandante lembra ainda que nos últimos anos houve "diversas ações de apoio" na cidade do Rio e no interior do estado, citando, entre as mais recentes, o empréstimo de mais de 400 fuzis e metralhadoras para as polícias Militar e Civil do Estado do Rio; a manutenção dessas armas; a participação permanente de um oficial do Estado-Maior do CML no Grupo de Gestão Integrada de Segurança Pública da Secretaria de Segurança; apoio à Polícia Civil com trabalhos de varredura de área realizada por soldados e empréstimo de detectores de minas; treinamento de militares da Polícia Militar do estado em cartografia digital, na 5ª Divisão de Levantamento do Exército; trabalho conjunto com o governo do estado na destruição de armas apreendidas; troca de informações com as agências de inteligência dos órgãos de segurança pública; apoio aos governos federal, estadual e municipal no combate e prevenção à dengue, e no atendimento a mais de 5 mil pessoas, entre hidratações e exames laboratoriais, em hospital de campanha; apoio a campanhas de vacinação, com postos de atendimento; e apoio, com instrutores e empréstimo de instalações, nos cursos de inteligência da Secretaria de Segurança.

O comunicado é encerrado assim: "O comandante militar do Leste reafirma sua disposição de cooperar com o governo do estado, desde que sejam observados os parâmetros que as leis prescrevem".

Crivella: Cabral faz uso eleitoral do pedido de tropas

Comentando ontem o novo pedido de tropas, desta vez para garantir a segurança nas eleições do Rio, o senador Marcelo Crivella (PRB), candidato a prefeito, disse que o governador está fazendo uso eleitoral da solicitação.

Segundo Crivella, quando era senador, Sérgio Cabral teria votado contra e se ausentado do plenário nas votações que trataram da vinda da Força Nacional de Segurança para a cidade.

- Nos quatro anos que passou no Senado, Cabral votou contra ou saía do plenário. Agora, por contingências do processo eleitoral, para ir ao segundo turno com seu candidato, ele fez uma parceria com o presidente Lula - alfinetou o candidato, que apóia a vinda do Exército.

Por meio de sua assessoria, o governador Sérgio Cabral disse que não comentaria as críticas.