Título: Clima de conflito entre fazendeiros e índios
Autor: Yafusso, Paulo
Fonte: O Globo, 17/08/2008, O País, p. 7 B
QUESTÃO INDÍGENA: Funai começa a identificar áreas remanescentes de guaranis-caiuás em Mato Grosso do Sul
Órgão não informa aos proprietários que terras serão vistoriadas e ativista diz que nativos estão irritados
Paulo Yafusso
CAMPO GRANDE. A publicação de portarias da Fundação Nacional do Índio (Funai) criando seis grupos de trabalho (GTs) para identificar áreas indígenas na Região Sul do estado reacendeu o conflito entre índios e fazendeiros de Mato Grosso do Sul. As portarias entraram em vigor no fim de julho e, na semana passada, os técnicos iniciaram os trabalhos, percorrendo as cidades onde existem índios guaranis-caiuás. Os atos da presidência da Funai não fazem referência às propriedades a serem vistoriadas pelos GTs nem ao total de áreas, mas a Federação da Agricultura (Famasul) acredita que o estudo abrangerá 12 milhões de hectares distribuídos em 26 municípios - o estado tem 78 cidades.
- Isso representa 20% do território do estado e 30% da população - afirma Dácio Queiroz, presidente da Comissão Estadual de Assuntos Indígenas Fundiários da Famasul.
Para ele, o fato de a Funai não revelar em que municípios estão as áreas a serem vistoriadas indica falta de transparência nas ações do órgão.
- Isso é uma traição que a Funai pretende ocultar. Não identificar as propriedades é promover o terror - afirmou.
Já o coordenador do Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Egon Heck, entende que a mobilização de fazendeiros, políticos, prefeitos e do governador André Puccinelli (PMDB) é uma tentativa de evitar que essas áreas sejam declaradas como dos índios.
- É extremamente necessário que isso seja feito, é preciso boa vontade para resolver essa questão e acho que ninguém vai querer entrar para a História por decretar o genocídio dos índios. É preciso resolver a questão das terras indígenas de uma vez - diz Heck.
Segundo ele, vendo a mobilização, os índios estão ficando irritados e isso pode se transformar em confronto.
Não houve incidentes entre seguranças e índios
Ele diz que os ruralistas já vinham contratando seguranças particulares para vigiar fazendas e, com as portarias da Funai, isso se intensificou. Mas até agora não houve incidentes entre os seguranças e os guaranis-caiuás.
Para impedir que os GTs vistoriem as propriedades, os ruralistas adotaram táticas como entrar com ações na Justiça Federal. Na semana passada, conseguiram liminar para que a Funai comunique com dez dias de antecedência ao proprietário que sua fazenda será vistoriada. Segundo Dácio Queiroz, entidades ligadas a indústria, comércio, medicina veterinária e agronomia vão entrar com 20 ações para pedir a revogação das portarias da Funai.