Título: Opção por linha contínua contraria tendência no país
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 17/08/2008, Economia, p. 39

Um dos problemas é falta de mão-de-obra para operar o sistema

BRASÍLIA. Para alguns analistas, a decisão de usar a linha ponto-a-ponto (de corrente contínua) para transmitir energia das usinas do Rio Madeira para o Sudeste contraria o que vem sendo adotado nas licitações de linhas de transmissão nos últimos anos. No Brasil, apenas o linhão de Itaipu, que transmite a energia da hidrelétrica binacional ao Sudeste, é de corrente contínua. As demais são de corrente alternada. Para Ary D"Ajuz, especialista em linhas de transmissão e consultor do Fórum LTCA, falta mão-de-obra especializada no país para lidar com o sistema, dominado por empresas multinacionais:

- Temos experiência para lidar com a tecnologia de corrente alternada e, por isso, os preços vêm caindo ao longo dos anos nos leilões. Ficaremos à mercê dos fabricantes.

Rafael Schechtman, diretor do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), afirma que, em uma linha tão longa, a corrente contínua evita perdas maiores da energia transportada, algo comum em qualquer linhão:

- As perdas são inevitáveis, mas com a corrente alternada serão ainda maiores com essa distância. O governo não poderá contar com parte da energia gerada em Rondônia.

Governo alega que sistema alternado é 40% mais caro

Para a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), que com o Ministério de Minas e Energia dará a palavra final sobre o tipo de transmissão, a questão primordial está relacionada a custos e problemas técnicos. Segundo o presidente da EPE, Maurício Tolmasquim, a linha de corrente alternada custaria 40% mais que a contínua, ou seja, demandaria investimentos de R$10 bilhões. Como ela apresentaria problemas técnicos, os custos poderiam subir 60%. Já a alternativa híbrida é 20% mais cara.

Tolmasquim garante que Rondônia não será prejudicada por falta de energia:

- O atendimento local está garantido, e há planos que asseguram o crescimento do mercado para os próximos 15 anos.

Nos próximos dias, o edital de licitação das linhas será apreciado pela diretoria da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Enquanto isso, a discussão começa a se politizar. A Comissão de Infra-Estrutura do Senado aprovou, semana passada, o requerimento para audiência pública com a finalidade de debater a transmissão de energia de Santo Antônio e Jirau.

Segundo a senadora Fátima Cleide (PT-RO), se forem confirmados os estudos pelo uso da energia em corrente contínua, não apenas Porto Velho, mas diversas cidades por onde a linha de transmissão passará serão prejudicadas, sem acesso à energia produzida. (G.P.)