Título: Mais barulho em torno das usinas do Madeira
Autor: Paul, Gustavo
Fonte: O Globo, 17/08/2008, Economia, p. 39

Movimento em Rondônia quer garantir que a energia gerada pelas hidrelétricas possa ser usada pela região

Gustavo Paul

BRASÍLIA. Na mesma semana em que a disputa empresarial entre a companhia franco-belga Suez e a Construtora Norberto Odebrecht pela usina hidrelétrica de Jirau atingiu altas temperaturas, outro conflito se desenha em torno do complexo hidrelétrico do Rio Madeira, Em Rondônia, que também abrange a usina de Santo Antônio. Cerca de 30 entidades do estado, incluindo engenheiros, advogados, comerciantes e industriais, criaram o movimento "Diga Sim à Corrente Alternada", que promete manifestações, abaixo-assinados e muito barulho. Por trás da aparente tecnicidade do slogan, o movimento quer garantir que a energia gerada possa ser usada pela região.

Em jogo, estão as obras da linha de transmissão - orçada em R$7,2 bilhões - que ligará as duas hidrelétricas ao Sudeste. Segundo especialistas, será a maior linha de transmissão do país, com 2.500 quilômetros, que ligarão Porto Velho a Araraquara (SP), passando por quatro estados. A licitação deverá ser em setembro.

O estopim da mobilização foi uma audiência pública encerrada em julho, que sepultou a hipótese de a linha ser apenas de corrente alternada. Esse sistema permitiria a construção de subestações ao longo do trecho do linhão para distribuir a energia. Com base em estudos da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), ligada ao Ministério de Minas e Energia, sobraram duas opções: as correntes contínua e híbrida (com os dois sistemas). A corrente contínua funciona como um sistema ponto-a-ponto: a energia é "empacotada" em Porto Velho e segue diretamente para São Paulo.

- Se a linha for de corrente contínua, levará toda a energia das usinas diretamente ao Sudeste, sem possibilidade de inserção regional e desenvolvimento das cidades onde passará o linhão - diz Ronaldo Ferreira da Silva, coordenador do Fórum LTCA JÁ (Linha de Transmissão em Corrente Alternada Já).

O argumento é que o cinturão do desenvolvimento agrícola brasileiro está se deslocando para o Centro-Oeste e Rondônia, onde a demanda por energia deve crescer nos próximos anos. A alternativa híbrida também é vista com desconfiança.