Título: Lula rejeita polícia inglesa em aeroportos
Autor: Galhardo, Ricardo
Fonte: O Globo, 16/08/2008, O País, p. 12

Governo britânico sugere vigiar saída de brasileiros em Cumbica; para presidente, "não é boa política"

Ricardo Galhardo

ASSUNÇÃO. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva descartou ontem a possibilidade de a Inglaterra enviar policiais a aeroportos brasileiros para monitorar a entrada de brasileiros em território inglês. Para Lula, a possível exigência dos ingleses de visto para os brasileiros é um retrocesso. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que, se os britânicos adotarem a exigência do visto, o Brasil vai reagir aplicando o critério da reciprocidade. Segundo Amorim, "o protecionismo humano" europeu pode afetar as relações políticas com o Brasil.

- Estabelecer esta política de visto é um retrocesso nas relações entre os dois países. Não é possível permitir que haja policiais nos aeroportos brasileiros fiscalizando brasileiros. Não é uma boa política - disse Lula ontem, em Assunção, depois da cerimônia de posse do presidente do Paraguai, Fernando Lugo.

Amorim deixou claro que o Brasil vai adotar o princípio da reciprocidade, o que significa que cidadãos britânicos também precisarão de visto para entrar no Brasil.

- Obviamente, não queremos que haja limitações ou restrições, mas, se tiver que ter visto, aplicaremos a reciprocidade - disse Amorim.

Segundo ele, o Itamaraty enviaria ainda ontem à embaixada britânica uma resposta dizendo que a presença de policiais estrangeiros nos aeroportos brasileiros está fora de cogitação, por ferir a soberania nacional:

- A proposta, da maneira como está sendo colocada, não dá muito para trabalhar. O poder de polícia é exclusivo e soberano de cada país. Isso não exclui possibilidade de cooperação. Não pode ser uma coisa unilateral e nem que tenha alguma implicação sobre a soberania dos países. Um inspetor (inglês) fazendo ele mesmo a vistoria dos passaportes não é aceitável.

Para o ministro, a proposta britânica faz parte de uma política adotada em toda a Europa, que ele chamou de "protecionismo humano". Perguntado sobre a tendência dos países europeus de dificultar a entrada de estrangeiros, Amorim respondeu:

- De fato, temos sentido isso. Eles têm um problema de migração com outros países e tendem a colocar isso no mesmo balaio. Mas é uma questão que não pode ser resolvida com desrespeito aos direitos humanos.

Amorim lembrou que no fim do século XIX o Brasil acolheu milhares de imigrantes europeus quando a América era considerada o eldorado. Segundo ele, o aprofundamento do protecionismo humano terá conseqüências políticas negativas.

- Na medida em que isso for se desenvolvendo, acabará tendo um impacto político não positivo. A própria psicologia das pessoas vai afetando a boa vontade recíproca. Não é uma coisa boa.