Título: Invasões de terra são desafio
Autor: Figueiredo, Janaína
Fonte: O Globo, 16/08/2008, O Mundo, p. 33

ASSUNÇÃO. Embora alguns movimentos sociais tenham anunciado uma trégua de cem dias, para facilitar o início de governo do novo presidente, em algumas regiões do país continuam ocorrendo invasões de terras. Na madrugada de ontem, 20 camponeses foram detidos no departamento (estado) de San Pedro, a 300 quilômetros de Assunção, quando tentavam ocupar a fazenda do paraguaio Carlos Van Humbeck. Com este pano de fundo, hoje Lugo visitará a região com o presidente da Venezuela, Hugo Chávez.

Apesar de Lugo ter condenado as invasões de terra, nos últimos dias as ações de camponeses sem-terra se multiplicaram, provocando pânico entre os fazendeiros, entre eles muitos brasileiros. Em declarações à imprensa local, Lugo assegurou que "as pessoas devem entender que queremos inaugurar um novo tempo, um tempo de respeito à Constituição e às leis, para todos". As palavras do presidente, no entanto, não foram suficientes para acalmar os proprietários.

- Estamos muito assustados. Em nosso campo já construíram uma casa e a ameaça de ocupação é constante - comentou Fátima Marinetti.

Fátima tem 28 anos e é casada com Jorge Antonio Eichelberger, cujos pais são brasileiros e moram há 40 anos no Paraguai. O casal integra a Associação de Produtores de Lima, criada há menos de um mês por fazendeiros da região de San Pedro.

- Nossa plantação de milho foi recentemente atacada por manifestantes. A fazenda de um de nossos vizinhos está ocupada. O que estamos vivendo é horrível - disse a produtora paraguaia, que não se mostrou muito confiante no governo.

Nas últimas semanas, os grupos de sem-terra instalaram mais de 60 acampamentos em todo o país, claro sinal de ameaça aos proprietários de terras, sobretudo brasileiros. Segundo confirmaram fontes do governo Lula, "existe um crescente sentimento xenófobo no Paraguai em relação aos brasileiros com terras no país". A reforma agrária é uma das promessas de Lugo e com as invasões os sem-terra pretendem pressionar o novo presidente. (J.F.)