Título: Agosto, mês de alívio
Autor: Ribeiro, Fabiana
Fonte: O Globo, 19/08/2008, Economia, p. 19

Inflação desacelera, mas consumidor ainda pode sentir novas altas no 2º semestre

Fabiana Ribeiro

Menos fôlego para a inflação em agosto. Levantamento feito pelo GLOBO em oito supermercados do Rio mostra que uma cesta de compras composta por 25 produtos ficou mais barata este mês: o custo médio caiu de R$105,14 em julho para R$102,97 - redução de 2,06%. Um comportamento que se confirma nos últimos índices de inflação da Fundação Getulio Vargas (FGV), divulgados ontem. O Índice Geral de Preços-10 (IGP-10) variou 0,38% em agosto, após alta de 2% no mês anterior. E o Índice de Preços ao Consumidor Semanal (IPC-S) registrou 0,34%, o menor resultado desde a terceira semana de março de 2008 (0,23%). O arrefecimento dos preços, no entanto, pode não se sustentar até o fim do ano. Economistas alertam que os baixos estoques mundiais e a demanda aquecida ainda estimulam o encarecimento dos alimentos.

O recente alívio no bolso, porém, não dispensa a necessidade de o consumidor pesquisar os preços entre os supermercados. Para se ter uma idéia, o quilo do feijão Máximo saía, no início do mês, por R$2,99 nas Sendas, uma diferença de 40,1% sobre o maior preço encontrado pelo levantamento. Já o leite Parmalat custava R$1,79 no Prezunic; em outra rede era vendido por R$2,19 (22,3% a mais). E a lata de leite Ninho valia R$5,99 no Mundial, 17,8% a menos que no concorrente.

- A pressão dos alimentos neste semestre será bem menor, devido a safras, desoneração tributária de trigo e ajustes naturais nos preços. Ainda assim, o consumidor deve sempre comparar valores - disse João Gomes, economista da Fecomércio-RJ.

Indústria pressiona por mais aumentos

Os alimentos apresentaram fortes desacelerações no IGP-10. No atacado, os produtos agropecuários deflacionaram 1,98%, após alta de 4,66%. No varejo, o grupo desacelerou de 1,56% em julho para 0,13% em agosto. Entre os destaques: carnes bovinas (1,15%), arroz e feijão (-0,18%) e hortaliças e legumes (-3,61%).

- Há mais de cinco anos que os IGPs não vêem uma diminuição da taxa desse magnitude (de 2% para 0,38%, 1,62 ponto percentual). E os alimentos podem baratear ainda mais para os consumidores: há itens no atacado com intensas desacelerações que podem chegar ao varejo em breve - disse Salomão Quadros, economista da FGV, citando as deflações no atacado de soja (-6,51), carne bovina (-0,32%), leite (-3,52%) e feijão (-7,90%).

Segundo Quadros, a demanda interna aquecida e os baixos estoques mundiais podem, em três meses, dar um freio na onda das desacelerações que o brasileiro começa a sentir.

- Não estamos livres de novas perturbações, especialmente na área agrícola - disse ele.

Para Genival de Souza, diretor do Prezunic, as perspectivas não são nada boas para o consumidor, mesmo com reduções de, em média 10%, nos preços de arroz, feijão, macarrão e farinha de trigo no último mês.

- A indústria vem pressionando para mais altas. E, com isso, o varejo pode ter que subir os preços de frango, carne e até material de limpeza - disse Souza, frisando que a inflação derrubou em 10% as vendas do mês em categorias como carne e frango.

A trégua nos preços também deve ficar registrada no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) - taxa usada no sistema oficial de metas do governo. Para Fábio Romão, economista da LCA, o índice pode fechar agosto em 0,4%, após 0,53% em julho:

- Há uma descompressão nos alimentos. O grupo pode recuar de 1,05% para 0,5% neste mês, no IPCA.

Atenta aos preços, a bióloga Sandra Martha busca as promoções. Por mês, gasta R$800 nos mercados.

- Nos últimos tempos, os preços só aumentaram, há um ou outro item em promoção. Procuro ver qual supermercado está com o melhor preço e substituir marcas de alguns produtos. Eu me recuso a pagar R$12 por um quilo de alcatra: só compro por cerca de R$8.