Título: Lula deve proibir equipe do governo de dar declarações sobre pré-sal
Autor: Vasconcelos, Adriana ; Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 25/08/2008, Economia, p. 18

Uma das preocupações é evitar repercussão negativa no mercado financeiro

Adriana Vasconcelos e Gerson Camarotti

BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva deve aproveitar a reunião de hoje da coordenação política para reforçar uma ordem já antecipada no fim de semana pela ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, proibindo integrantes do governo de discutir publicamente as estratégias em estudo para exploração das novas reservas de petróleo do pré-sal. Declarações sobre alternativas estudadas pelo Executivo sobre o assunto - como, por exemplo, a possibilidade de desapropriação dos campos já licitados nas áreas em que se descobriu petróleo na camada do pré-sal, noticiada pelo GLOBO na semana passada - irritaram bastante o Planalto.

A avaliação é que esse tipo de vazamento tanto pode produzir repercussões negativas no mercado financeiro, como também tem mobilizado a Petrobras no sentido de barrar eventuais ações do governo.

- Qualquer tipo de vazamento tende a precipitar raciocínios - admitiu o ministro de Relações Institucionais, José Múcio.

Na sexta-feira, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, revelou ao GLOBO que uma possível desapropriação de áreas já licitadas, concedidas a Petrobras e parceiras privadas, ocorreria mediante indenizações a "preços justos", "sem quebra de contrato".

Segundo Múcio, o presidente Lula só pretende abrir o debate sobre o futuro das bacias de petróleo nas camadas do pré-sal, na Bacia de Santos, depois de receber, no dia 19 de setembro, um relatório que encomendou a uma comissão interministerial criada há cerca de duas semanas para analisar as melhores alternativas para o setor.

No comando dessa comissão estaria a ministra Dilma Rousseff, uma das principais defensoras dentro do governo da criação de uma nova estatal para administrar as explorações no pré-sal. Dilma faz parte também do grupo de Coordenação do Governo, que se reunirá com Lula hoje à tarde.

Uma das preocupações de Lula é evitar especulações que possam comprometer, em especial, o valor das ações da Petrobras. Há um temor que especuladores possam iniciar um novo movimento para desvalorizar essas ações, como se detectou nas últimas semanas quando começaram as primeiras discussões sobre a criação de uma nova estatal para administrar as novas descobertas de petróleo.

O governo também quer evitar ações da Petrobras no sentido inverso. Interessada em manter sob seu comando as explorações do pré-sal, a empresa tem mobilizando governadores e parlamentares da base aliada contra a hipótese de criação de uma nova estatal. A avaliação do Planalto é que qualquer discussão pública sobre o assunto pode limitar ações do governo.