Título: HUB vive pesadelo, diz diretor
Autor: Oliveto, Paloma
Fonte: Correio Braziliense, 21/05/2009, Brasil, p. 16

Atormentada por uma dívida de R$ 13 milhões e com falta de 535 profissionais, unidade vinculada à UnB estuda fechar setor de pediatria e está sem pronto-socorro há um ano.

O Hospital Universitário de Brasília (HUB) amarga uma dívida de R$ 13 milhões com fornecedores e prestadores de serviço. Além do déficit no caixa, faltam profissionais, médicos chegam a dar 12 plantões seguidos, os salários estão abaixo do mercado e o berçário funciona com metade do número necessário de servidores. Assim como os demais 45 hospitais vinculados a instituições de ensino superior federais, que sofrem com carência de pessoal e recursos, conforme relatório do Ministério da Educação (MEC) divulgado com exclusividade ontem pelo Correio, o HUB enfrenta uma grave crise. ¿Nosso sonho era trabalhar em condições dignas, mas estamos vivendo um verdadeiro pesadelo¿, relata Dioclécio Campos, diretor da pediatria do hospital.

Em funcionamento desde 1972, o HUB tem 289 leitos e 121 salas ambulatoriais, pelas quais passam, em média, 16 mil pessoas por mês. São cerca de 900 internações, além de 3,5 mil consultas no pronto-socorro, 60 mil exames e 500 intervenções cirúrgicas. Apesar do número de atendimentos, o orçamento total é de R$ 2 milhões mensais, considerado muito baixo pelo diretor do HUB, Gustavo Romero. Ele calcula que seriam necessários R$ 3 milhões para administrar o hospital. O déficit de pessoal é de 535 vagas, entre médicos, enfermeiros e auxiliares de enfermagem. Como não há renovação dos quadros de funcionários, o HUB precisa contratar temporários e terceirizados para dar conta da demanda, o que consome boa parte do orçamento. ¿Fazemos de conta que temos dinheiro para operar até o 21º dia do mês. Depois, fazemos malabarismo¿, ironiza Romero.

O diretor do HUB diz que as áreas mais críticas são as de anestesia, atendimento emergencial e cuidados intensivos. ¿O pronto-socorro está fechado para reformas. Mas, se estivesse aberto, não conseguiria atender a população¿, diz. Para ele, o projeto de reestruturação dos hospitais universitários, que será apresentado ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 28 de maio, é importante, mas não atende todas as demandas. ¿É um início, para tentar suprir o mínimo de pessoas necessárias para que os hospitais não fechem, mas ainda muito distante do que nos permitiria operar em condições normais¿, acredita. O MEC negociou com o Ministério do Planejamento a contratação, em caráter urgente, de cerca de 6 mil servidores, até o fim do ano, para suprir o déficit estimado em 30 mil profissionais.

Exaustão O diretor da pediatria do HUB conta que o departamento responsável pelo atendimento de crianças também passa por uma situação precária, e que só mantém as portas abertas ¿graças ao sacrifício de seus quadros, que não querem fechar a pediatria¿. O pronto-socorro pediátrico, que precisaria de no mínimo 23 profissionais para manter a escala ¿ todos os dias da semana, por 24 horas ¿, conta com metade do quadro. Com isso, médicos, enfermeiros e auxiliares se desdobram para fazer plantões em números muito superiores aos recomendados pelo Código de Ética da profissão. ¿Não é assim que deve funcionar um serviço universitário, de uma universidade federal da capital da República. Os colegas estão exaustos e é nítida a redução da qualidade¿, afirma Dioclécio Campos.

O pediatra acredita que um dos fatores que impedem o aumento do número de funcionários é o baixo salário ofertado. Um médico do setor recebe, em média, R$ 2 mil por 24 horas semanais de trabalho no HUB. Ele defende isonomia com os funcionários da Secretaria de Saúde do Distrito Federal, já que nos dois casos o atendimento é 100% vinculado ao Sistema Único de Saúde. ¿Isso porque estamos falando de profissionais diferenciados, que possuem pós-graduações e fazem atividades complexas, como cuidar de recém-nascidos em UTIs.¿