Título: O morde-e-assopra das UPAs
Autor: Duarte, Alessandra ; Bruno, Cassio
Fonte: O Globo, 26/08/2008, O País, p. 3

Adversários criticam Paes por uso político do sistema, mas maioria reconhece benefícios

Alessandra Duarte, Cassio Bruno e Luiz Ernesto Magalhães

Amaioria dos candidatos à prefeitura criticou a centralização do debate sobre saúde em torno das Unidades de Pronto-Atendimento (UPAs) 24 horas, projetos do governo do estado defendidos pelo candidato Eduardo Paes (PMDB). Para alguns, as UPAs servem à população, mas devem ser complementadas por outros equipamentos. Ontem, Paes confirmou que gravou sua propaganda eleitoral numa das unidades, mas disse não ver problema, pois "o que não pode é pedir voto" lá. No programa de Paes ontem à noite, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, apareceu defendendo as UPAs. Jandira Feghali (PCdoB) acusou Paes de usar a máquina do estado.

Marcelo Crivella (PRB) também criticou Paes:

- Não pode gravar programa dentro de prédio público. Não pode prometer obra que vai ser feita com dinheiro do governo estadual. Campanha municipal tem que ser tratada com projetos e recursos do governo municipal, não anunciando projetos do estado. Acho isso um absurdo. Jandira está certa.

- O candidato tem direito de fazer a crítica que quiser, não tenho nenhum comentário a fazer sobre isso. A UPA é a proposta-âncora do nosso programa na área de saúde. Vamos implementar 40 UPAs 24 horas - disse Paes.

Após informar, no último dia 12, que construiria 80 UPAs 24 horas, Jandira disse ontem que nunca falou de 80 UPAs.

- Falei 80 policlínicas 24 horas. Agora, revisei o número, passando para 70, utilizando como critério os bairros acima de 30 mil habitantes - disse Jandira, prometendo municipalizar as UPAs 24 horas: - Nas policlínicas 24 horas, as pessoas ficariam no máximo 12 horas, e não um, dois dias, como já aconteceu.

Segundo a professora Ligia Bahia, da equipe de saúde de Jandira, cada policlínica (que faria 500 consultas por dia, incluindo pronto-atendimento e especialidades, como cardiologia e oftalmologia) custaria cerca de R$1,5 milhão, além de R$7,2 milhões por ano com manutenção. As policlínicas não seriam em contêineres, como as UPAs, mas em prédios. Seriam construídas 40 no primeiro ano, cinco pelo Ministério da Saúde.

Unidade de atendimento custa R$1,2 milhão

Segundo a secretaria estadual de Saúde, implantar uma UPA sai por R$1,2 milhão. O custo anual de manutenção é de R$6 milhões, incluindo o pagamento de salários de médicos e enfermeiros e as ambulâncias. O modelo é mais caro do que os postos de saúde da prefeitura que funcionam 24 horas. Nesses, o custo de manutenção é de cerca de R$4,5 milhões ao ano. Neles não há, porém, internações por até 48 horas nem atendimento especializado em ortopedia.

O secretário Sérgio Côrtes disse que, até o domingo, as UPAs tinham realizado 663.819 atendimentos: só 2.166 pacientes precisaram de remoção. Isso, segundo Côrtes, pode indicar que as UPAs estão substituindo a rede básica:

- Apenas ano passado, o Samu fez 198 mil atendimentos em domicílios. Este ano deve chegar a 356 mil . Ainda assim, a procura pelas emergências não diminuiu, o que mostra que havia demanda reprimida por atendimento na rede.

Solange Amaral (DEM) criticou Paes.

- É algo feito sem licitação, custando o dobro de um posto de saúde. De onde o candidato vai tirar R$240 milhões para construir 40 UPAs? Não é uma ação de saúde, é uma ação eleitoral - diz Solange, que propõe abrir mais 28 postos.

Alessandro Molon (PT) também propõe a criação de policlínicas 24 horas, com pronto-atendimento e pequenas intervenções cirúrgicas:

- As UPAs já construídas pelo estado não seriam municipalizadas, mas integradas ao atendimento pelo SUS, sob a coordenação do município. E os postos de saúde ficariam abertos até 22h, servindo como apoio ao Saúde da Família.

Fernando Gabeira (PV), que exibiu na TV ontem o apoio do ex-ministro da Saúde José Serra, defendeu ampliar o atendimento nas UPAs:

- A política talvez seja ampliar o atendimento das unidades já existentes, não aumentar o número de unidades. Vamos abrir mais postos, mas preciso fazer o orçamento para saber quantos mais.

Chico Alencar (PSOL) disse que "a UPA está para a política de saúde assim como a lona cultural está para a de cultura":

- Resolve, mas é complementar. Essa defesa das UPAs é tão eleitoreira que virou até outdoor. Nisso, concordo com a Jandira: saúde não pode ser só UPA - disse Chico, que propõe ampliar o Saúde da Família de 7% para 30%.

Paulo Ramos (PDT) afirmou que "não há como ser contra algo que serve à população":

- É preciso fazer com planejamento.