Título: Medo de represália do tráfico e da milícia fez 9,7% dos moradores não colaborarem
Autor: Goulart, Gustavo; Freitas, Walmor
Fonte: O Globo, 20/08/2008, Rio, p. 14

Pesquisador conta em apresentação que foi preciso obedecer às regras dos bandidos

O medo de represálias por parte do tráfico e das milícias inibiu os entrevistados e dificultou o trabalho dos pesquisadores. Segundo Andreia Soares Pinto, gerente de Projetos do ISP e supervisora do trabalho, das cinco mil pessoas entrevistadas, apenas 4.553 deram respostas.

- Seriam cinco mil, mas não conseguimos Tivemos uma recusa de 9,7%. Geralmente, a gente espera um pouco menos. Acreditamos que ficaria entre 5% e 6% em tempos, digamos, normais. No contexto mais atribulado como foi aquele das ocupações e do Pan, a dificuldade foi um pouco maior - disse.

Outra barreira enfrentada pelos pesquisadores: eles precisaram conversar com traficantes e milicianos, para mostrar que tipo de trabalho estavam fazendo naquela área. Os coordenadores entenderam que seria melhor trabalhar de segunda a quinta-feira, já que, nos fins de semana, o movimento do tráfico é maior.

- O trafico e as milícias são uma realidade no Rio. Trabalhamos obedecendo às regras do tráfico - disse o pesquisador Anderson Paulino da Silva durante a apresentação dos indicadores no Hotel Novo Mundo.

Andreia afirmou ainda que, em qualquer pesquisa domiciliar, as dificuldades são muitas, mesmo em áreas onde vivem pessoas com melhor poder aquisitivo:

- Nas favelas, é preciso se mostrar como um todo, é preciso dizer que se está fazendo um trabalho ali. Tem que se tornar visível. Na Vieira Souto (em Ipanema), é o síndico que não vai deixar o pesquisador ter acesso. É preciso explicar por que estamos ali. Por isso, usamos cartas para o síndico, o porteiro e o morador. Nas favelas, usamos rádios, associações de moradores e alternativas diferentes de comunicação para quebrar resistências.

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