Título: Pouca confiança na polícia
Autor: Goulart, Gustavo; Freitas, Walmor
Fonte: O Globo, 20/08/2008, Rio, p. 14

Pesquisa mostra que instituição não tem crédito com a maioria da população

Gustavo Goulart e Walmor Freitas

A relação da Polícia Militar com a população da Região Metropolitana está estremecida: apenas 6,9% das 4.553 pessoas entrevistadas para uma pesquisa inédita sobre vitimização confiam totalmente na corporação. E 0,4% confia, 36% confiam apenas em parte e 56,1% não confiam. O estudo, feito pelo Instituto de Segurança Pública (ISP) durante dois anos e meio, também avaliou os serviços de segurança pública prestados especificamente pela PM: auxílio e socorro obtiveram 45,8% de aceitação como ótimo ou bom, mas a distribuição do policiamento nos bairros foi considerada ruim ou péssima por 70,3% dos entrevistados.

O estudo, intitulado Desenvolvimento de Metodologia e Aplicação de Pesquisa de Vitimização na Região Metropolitana do Estado do Rio, também avaliou os maiores medos sentidos pela população pesquisada e descobriu que ser vítima de bala perdida em seu bairro atinge 57% das pessoas. Estar no meio de um tiroteio na sua região é o maior temor de 43,5% dos que responderam um longo questionário, com mais de 250 perguntas. Para 37,69%, o maior medo é ter a casa assaltada. O presidente do ISP, coronel Mário Sérgio Duarte, avaliou a falta de confiança dos entrevistados na Polícia Militar e deu a receita para reverter o quadro:

- As pesquisas indicam que uma parcela considerável da população não confia ou confia plenamente na Polícia Militar. Agora, existe um grande número de pessoas que não confia na corporação. Acho que isso não pode ser um fator de desestímulo, muito pelo contrário. As corporações, tanto a Polícia Militar como a Polícia Civil, têm que envidar todos os esforços para que conquistem aos poucos a confiança da população. Ou conquistem ou reconquistem - recomendou. - Tem que ser feito um trabalho das corporações para produzir melhores serviços. Isso é uma questão óbvia. O que é importante é que a pesquisa evidencia isso e as corporações têm que se esforçar.

Avaliação também sobre a Polícia Civil

A pesquisa também abordou a percepção dos entrevistados sobre a Polícia Civil. Ela revelou que 42,9% não confiam, 44,8% confiam em parte, 0,5% confiam e apenas 9,2 confiam totalmente. Coordenadora do projeto, Vanessa Campagnac, doutoranda em ciência política pela Universidade Federal Fluminense, interpretou os percentuais.

- No geral, a confiança na PM foi menor do que na Civil. Mas tem um contraponto. A PM aparece mais, tem o uniforme, as pessoas estão vendo. E a Polícia Civil fica meio disfarçada. E aí, a maioria das respostas é não sei. O Disque-Denúncia (2253-1177) foi muito bem avaliado porque as pessoas conhecem - contou Vanessa, referindo-se aos 67,3% da população que o consideraram ótimo ou bom.

Sobre a desconfiança dos entrevistados em relação aos policiais, o governador Sérgio Cabral disse o fortalecimento da polícia é um trabalho de longo prazo:

- Esse não é um trabalho fácil, é um trabalho que demora um bom tempo, mas acho que nossa polícia já é merecedora de aplausos. Apesar dos contratempos, a grande maioria dos policiais está trabalhando duramente para enfrentar o crime.

O sociólogo Gláucio Soares, pesquisador do Iuperj e autor de um artigo constante da pesquisa, analisa o maior medo dos entrevistados, que é a bala perdida:

- O número de homicídios em relação ao total de crimes é muito baixo. Mas, de certa forma, você pode controlar o risco de ser assaltado evitando áreas perigosas. Já sobre a bala perdida não há qualquer controle. Você pode estar andando de metrô e ser atingido, como já aconteceu - disse o sociólogo.

A coordenadora do estudo, Vanessa Campagnac, disse esperar que o projeto gere frutos no futuro:

- Temos os dados preliminares. Agora é trabalhar com eles.

COLABOROU Natanael Damasceno