Título: Alemanha condiciona acordo nuclear com o Brasil à energia renovável
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 26/08/2008, Economia, p. 31

Pressão de verdes pesou na renovação de compromisso de 1975 sobre usinas

Graça Magalhães-Ruether

COLÔNIA, Alemanha. O vice-ministro da Economia alemão, Bernd Pfaffenbach, disse que o país preservou o acordo nuclear com o Brasil, assinado em 1975, por interesse do governo brasileiro. Mas nele foi incluído um acordo para energia sustentável e aumento da eficiência energética, que prevê também a cooperação na área de biocombustíveis.

Pfaffenbach esteve no Brasil em maio, integrando a comitiva da chanceler Angela Merkel, para o fechamento do acordo, assinado após anos de polêmica, sobretudo do lado alemão, sobre a continuação ou não do acordo nuclear.

Por iniciativa do governo do ex-chanceler Gerhard Schröder, da coalizão verde-social-democrata, os dois países decidiram transformar o acordo nuclear em uma cooperação na área da energia renovável em 2004. Depois que o Brasil manifestou interesse em retomar o acordo nuclear, no momento em que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva decidiu levar adiante o projeto da usina de Angra 3 e planejar a construção de novas usinas, o assunto voltou a ser motivo de polêmica na Alemanha.

Enquanto o ministro da Economia, Michael Glos, do partido conservador, era favorável ao acordo nuclear, seu colega do Meio Ambiente, Sigmar Gabriel, do partido social democrata (SPD), era contra.

Por trás disso, está a divisão do próprio governo alemão. Em 1998, o então governo eleito SPD/verdes decidiu abandonar a energia nuclear. Com o aumento dos preços da energia, a aliança União Democrata/União Social Cristã (CDU/CSU) passou a defender a revisão dessa decisão.

Mas, enquanto nos anos 70 o governo alemão até concedeu uma garantia para o financiamento de Angra 2 - que entrou em operação em 2000, depois de 25 anos de obras -, não há planos de apoiar o próximo projeto. Uma das empresas com contrato para Angra 3 é a francesa Areva, controladora da Framatome, que se fundiu com a alemã KWU, da Siemens - construtora de Angra 2.

- Até agora, não houve nenhum pedido brasileiro de financiamento de Angra 3. Se houver, será julgado como um caso político, e não como uma licença normal, por causa da posição crítica alemã em relação à energia nuclear - disse ao GLOBO Pfaffenbach, que participa da XXXV Reunião da Comissão Mista Brasil-Alemanha de Cooperação Econômica, que começou ontem e termina hoje em Colônia.

Nenhum país tem solução segura para lixo atômico

Pfaffenbach lembrou que, em meio à discussão sobre a necessidade de reduzir as emissões de gases poluentes, os defensores da energia atômica apontam esta como a melhor solução:

- Por outro lado, temos o problema gravíssimo de que nem Alemanha nem Brasil nem qualquer outro país conseguiu uma solução para o fechamento do ciclo nuclear, ou seja, uma forma segura de armazenamento do lixo atômico.