Título: Poucos saem de casa em favela
Autor: Costa, Ana Claudia ; Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 22/08/2008, O Globo, p. 15

Ex-traficante aliado de milícia foi reconhecido entre os criminosos

Paulo Carvalho*

O clima dentro da Favela do Barbante, em Campo Grande, ainda é de muita tensão e a Polícia Militar continua ocupando as principais ruas da comunidade. Ontem, poucos moradores se aventuraram a sair de casa. Ninguém quis falar sobre a chacina ocorrida na noite de terça-feira.

As pichações de uma facção criminosa, que haviam sido espalhadas pela favela, amanheceram cobertas com uma tinta branca. Em um muro, viam-se as inscrições: ¿Cuidado, área de risco¿ e ¿Família hunilda¿.

Policiais militares do Regimento de Polícia Montada (RPMont), de Campo Grande, chegaram a fazer uma incursão pela favela em busca de novas vítimas do ataque da milícia. Ninguém, no entanto, foi encontrado durante a operação.

Muito revoltada, Daiane Lemos, de 19 anos, namorada do motoboy Maicon Azevedo Portella, de 21, uma das vítimas, não quis acusar milicianos ou traficantes. Ela está grávida de três meses.

¿ Ele era trabalhador. O que fizeram foi uma covardia ¿ disse.

Já no enterro de Maicon, no Cemitério de Campo Grande, moradores da Favela do Barbante, mesmo amedrontados, confirmaram a versão da polícia, de que os crimes foram cometidos por milicianos. Eles disseram que testemunhas reconheceram entre os criminosos um ex-traficante conhecido como Reinaldo, que se aliou à milícia quando o tráfico foi expulso da favela.

Maicon trabalhava como entregador de farmácia durante o dia e de pizza à noite. Ele passava pela Rua Campo Grande quando foi levado à força para dentro da favela e assassinado com três tiros.

Segundo moradores, o motoboy era um desafeto de Reinaldo. Ele teria namorado uma mulher que já havia mantido um romance com o ex-traficante.

Além do motoboy Maicon, foram enterrados Dario Leoneza, de 56 anos, e Bruno Sérgio Manhães Ayres Batista, de 27, no Cemitério Jardim da Saudade de Paciência. Até o final do dia de ontem, duas vítimas da chacina ainda não haviam sido identificadas pela polícia.

* Do Extra