Título: Pms matadores
Autor: Costa, Ana Claudia ; Werneck, Antônio
Fonte: O Globo, 22/08/2008, O Globo, p. 15

Três policiais estavam entre 17 integrantes de milícia responsáveis por chacina em favela

Três PMs da ativa estavam entre os 17 integrantes do grupo responsável pela chacina de sete pessoas ocorrida na terça-feira, na Favela do Barbante, em Campo Grande. A informação foi dada ontem pelo delegado Marcus Neves, titular da 35ª DP (Campo Grande). Ele contou que dez criminosos já estão identificados e sua prisão foi pedida à Justiça. Todos seriam ligados à milícia autodenominada Liga da Justiça, que atua na região.

Neves informou que pelo menos cinco carros foram usados. Testemunhas reconheceram parte do bando e deram informações que poderão levar ao resto dos assassinos e ao esclarecimento do crime em pouco dias, segundo o delegado.

Na Alerj, logo após depor a portas fechadas na CPI das Milícias, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, disse ontem que a matança em Campo Grande foi comandada mesmo pelo ex-PM Luciano Guinâncio, filho do vereador Jerônimo Guimarães, o Jerominho, que está preso em Bangu 8. Luciano, acrescentou o delegado Marcus Neves ¿ que acompanhou o depoimento do secretário ¿, não só chefiou o ataque, como executou algumas das vítimas.

¿ Essa chacina foi mais uma ação estúpida, violenta e burra desse grupo ¿ disse Beltrame. ¿ Foi uma medida desesperada e inconseqüente desse grupo. Foi um crime bárbaro feito pelo elemento que é filho do Jerominho. Agora nosso foco é fazer essa prisão.

O secretário ressaltou que a polícia agora tem que reunir elementos para prender todos os acusados de atuar na milícia na região. Ele frisou que não se pode invadir favelas sem uma ação de inteligência em curso.

¿ Não podemos agir de maneira exacerbada. Não podemos ir lá no Barbante com gosto de sangue na boca. Precisamos ter ações de inteligência para retirar do local esses tiranos que impõem sua vontade na boca do fuzil ¿ disse Beltrame.

Polícia já sabe quem são 47 milicianos

A chacina, de acordo com Marcus Neves, aconteceu porque milicianos queriam criar na comunidade uma idéia de que esse grupo é imprescindível para manter a paz no local e, assim, eleger seus candidatos. A milícia Liga da Justiça já teve 47 integrantes identificados pela polícia e 30 deles trabalham em forças de segurança: são 22 PMs, quatro policiais civis, dois agentes penitenciários, um militar das Forças Armadas e um bombeiro.

Apesar das sete mortes na Favela do Barbante, Beltrame disse que o índice de homicídios na Zona Oeste caiu 50% desde que foi iniciado o combate aos milicianos na região. O secretário de Segurança Pública acrescentou que também houve queda, de 38%, no número de registros de cadáveres encontrados na região.

¿ Essa queda nos índices comprova que grande parte dos homicídios e da ocultação de cadáveres na Zona Oeste foi praticada por esse grupo (a milícia) ¿ disse Beltrame.

Para o presidente da CPI das Milícias, deputado Marcelo Freixo (PSOL), o depoimento de Beltrame e outras informações passadas pela Secretaria de Segurança Pública contribuíram para a apuração dos fatos pela comissão. Nas próximas semanas, o deputado estadual pretende convocar também acusados de comandar milícias em bairros como Jacarepaguá.

Graças a investigações da polícia de São Paulo, a milícia Liga da Justiça perdeu um de seus homens fortes ontem. Leandro Paixão Viegas, o Leandrinho Quebra-Ossos, foi preso em flagrante em São Vicente, no litoral paulista. Acusado de ser um dos matadores da milícia, ele vinha usando documentos falsos e foi detido numa pousada. Leandro estaria fora do Rio há quatro meses.

¿ Foi um duro golpe. Ele era um dos homens fortes do grupo ¿ disse o delegado Marcus Neves.