Título: Temos de atraso na perfuração
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 22/08/2008, Economia, p. 25

Para especialistas, exploração no pré-sal pode ficar comprometida

Gustavo Paul, Mônica Tavares e Eliane Oliveira

BRASÍLIA. A discussão em torno da criação da nova estatal de petróleo para coordenar a exploração dos campos do pré-sal pode atrasar o processo de exploração dos campos já anunciados pela Petrobras, alertam especialistas do setor ouvidos pelo GLOBO. Segundo a Petrobras, considerando só embarcações, terão de ser investidos US$40 bilhões nos próximos anos, para explorar os nove campos, entre eles Tupi e Júpiter. Para o geólogo e pesquisador da Coppe/UFRJ Giuseppe Bacoccoli, a discussão central no governo deveria ser como explorar os campos já anunciados, cujas estimativas de reservas são cinco vezes maiores que as atuais.

Segundo um executivo da Petrobras, a maior preocupação da estatal é com a grande soma de dinheiro necessária para a exploração:

¿ As preocupações da Petrobras são a geração de recursos e a viabilização do projeto. Precisamos saber como financiar e qual a forma de tirar melhor proveito (para a indústria nacional) dessa riqueza potencial que é o pré-sal.

Preocupada com os prazos da Agência Nacional do Petróleo (ANP), a estatal vai postergar a declaração da comercialidade do campo de Tupi. Caso anunciasse este ano, por exemplo, teria de iniciar o processo de produção imediatamente, pois o prazo de concessão passa a correr. Para ganhar tempo, a empresa só deverá declarar que os blocos são produtivos em 2010.

Para um empresário do setor, a incerteza gerada em torno do futuro da Petrobras pode contaminar sua capacidade de obter financiamentos:

¿ Como uma empresa vai entrar em um ciclo pesado de investimentos sem saber qual será seu faturamento, os impostos que pagará e se terá condições efetivas de explorar tudo o que foi previsto? O mercado fica apreensivo.

Lobão prevê exploração em novas áreas do pré-sal em 5 anos

O ex-diretor da Agência Nacional do Petróleo (ANP) Luiz Horta lembrou que, dependendo do ritmo de produção, será preciso importar todas as plataformas de petróleo e mão-de-obra, pois não existem engenheiros suficientes no país.

O ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, estima que em cinco anos será possível começar a explorar as áreas do pré-sal ainda não descobertas. Ele lembrou que o investimento do governo brasileiro pode ser zero, pois a ¿intenção é contratar empresas que irão receber pelos serviços¿. O ministro também defendeu mudanças na distribuição de royalties, que hoje beneficiam sobretudo estados e municípios produtores. O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) concorda com Lobão. Já o senador Delcídio Amaral (PT-SP) enfatiza que, primeiro, deve ser definido o novo modelo de exploração do pré-sal.

A Câmara e o Senado devem entrar de mais diretamente na discussão sobre a nova estatal. O presidente da Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), disse ontem que vai propor a formação de um grupo especial para discutir o tema. O mesmo será feito pelo líder do PSB no Senado, Renato Casagrande (ES). A oposição continua criticando a criação da estatal.

¿ Vai ser a PetroLula e vai ser um baita cabide de emprego. O atual modelo é adequado ¿ disse deputado Paulo Bornhausen (DEM-SC).

COLABORARAM Gerson Camarotti e Cristiane Jungblut