Título: Na dianteira do pré-sal
Autor: Camarotti, Gerson
Fonte: O Globo, 22/08/2008, Economia, p. 25

ENERGIA EM XEQUE

Para ter vantagem, Petrobras já contrata equipamentos e pediu sua capitalização

Gerson Camarotti*

O pedido de aumento de capital em US$100 bilhões - feito pela Petrobras ao governo, como revelou O GLOBO na quarta-feira - é parte da estratégia da estatal de se antecipar e garantir posição privilegiada na exploração dos futuros campos de pré-sal. Segundo fontes com acesso aos planos da estatal, a Petrobras já vem fechando contratos de compra e aluguel de equipamentos para que, quando as novas regras estiverem fixadas, ela possa se apresentar para a negociação com a União em vantagem sobre as seis principais concorrentes: as americanas Chevron e Exxon, a anglo-holandesa Shell, a norueguesa Statoil, a britânica BP e a francesa Total.

Em conversas reservadas, os dirigentes da estatal têm afirmado que a Petrobras deseja ser a principal player do pré-sal brasileiro com ou sem nova estatal. A estratégia está tão avançada que as contratações já começam a causar desconforto entre os membros da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), o cartel internacional dos maiores países vendedores da commodity, segundo informações em poder da diretoria da Petrobras.

A avaliação da estatal foi pragmática. A aquisição e o leasing de sondas, barcos e plataformas estão engatilhadas porque, a partir da contratação, o tempo para entrega de navios chega a 30 meses; o de sondas é de 24 a 40 meses; e o de plataformas, de até 36 meses. Ao Planalto, já chegou a informação de que a Petrobras está fechando contratos para 57 sondas, 76 barcos de apoio e ao menos duas dezenas de plataformas para operar no pré-sal. Por isso, a ordem na estatal é evitar a polêmica.

- A Petrobras já está montando a logística, antecipando-se para atuar com vantagem no pré-sal e negociar em situação de vantagem no momento oportuno - disse uma fonte.

Ontem, o senador Delcídio Amaral (PT-SP) alertou para a necessidade de investimentos urgentes para que o Brasil esteja preparado para explorar as reservas do pré-sal. Ele lembrou que a Petrobras planeja investir US$112 bilhões de 2008 a 2012. Mas argumentou que somente para explorar as novas reservas serão necessários US$600 bilhões. Um estudo do banco UBS calcula que é esse o valor necessário para a exploração de todo o petróleo no pré-sal da Bacia de Santos, nos 27 anos da concessão.

- Não é criando uma estatal, não é da noite para o dia que esses aportes vão chegar ao país. O pré-sal é um assunto complexo sob o ponto de vista de provisionamento de equipamentos, porque a indústria está muito aquecida. Não tem sonda, não tem plataforma, não tem navio, e essas encomendas levam tempo. Um navio, na melhor das hipóteses, leva 30 meses para ser construído. E as empresas têm de se preparar para encarar essa fila, que não é pequena - advertiu Delcídio, que já foi ministro de Minas e Energia no governo Itamar Franco e, mais recentemente, diretor da Petrobras.

O senador Aloizio Mercadante (PT-SP) também alertou para a necessidade de grandes investimentos:

- Não adianta termos uma grande reserva se não tivermos como fazer a extração. Por isso, nosso primeiro desafio é capitalizar a Petrobras para a necessidade de investimentos.

Ontem, a Petrobras Bolívia reiterou que investirá US$1 bilhão em exploração no país nos próximos cinco anos.

- Estamos confortáveis, as perspectivas (geológicas) são boas, estamos programando investimentos - disse Claudio Castejón, presidente da empresa, na quarta-feira.

(*) Com agências internacionais

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