Título: Analistas vêem incerteza com estatal
Autor: Ordoñez, Ramona
Fonte: O Globo, 22/08/2008, Economia, p. 26
Para especialistas, indefinição sobre pré-sal vai afastar estrangeiros
Bruno Rosa*
RIO e NOVA YORK. A criação de uma nova estatal do petróleo divide analistas e investidores estrangeiros. Mas todos são unânimes em afirmar que haverá muita incerteza no mercado internacional até o governo tomar uma decisão. Para Christopher Efird, presidente do fundo AAI Global Equity, não haverá investimento no setor até ser decidido como será a participação de sócios estrangeiros e o poder deles no negócio. Além disso, diz Efird, haverá um grande jogo político antes de a nova companhia ser criada:
- O melhor é o Brasil decidir como será feito, e que não comece atolado na luta política. Mas antes de tudo ser definido, haverá muita resistência aos investimentos. É preciso ter regras claras para se associar com a Petrobras ou com a nova empresa.
Alfredo Coutino, economista da Moody"s, diz que os estrangeiros estão inquietos com a atual discussão do governo. Para ele, os investidores estão mais cautelosos e menos eufóricos com o poder estatal na camada pré-sal:
- Toda essa confusão vai limitar a participação estrangeira nos negócios. E eles querem participar. Eu acho que, se a intenção do governo é ter apenas o controle, será malvisto por todos. Mas se a nova companhia for usada para incentivar políticas públicas, haverá um reconhecimento.
Burocracia na contramão de outros países produtores
Coutino ressalta que as recentes quedas na cotação da Petrobras no Brasil foram influenciadas tanto por essa discussão como pelo recuo nos preços do petróleo. Ontem, os títulos da Petrobras negociados na Bolsa de Nova York tiveram alta de 4,64%, acompanhando a variação da commodity.
A alta de ontem se deveu ao acirramento da tensão entre EUA e Rússia e à desvalorização do dólar. Em Nova York, o barril do tipo leve americano subiu 4,86%, a US$121,18, a maior cotação desde 4 de agosto. Chegou a ser negociado a US$122,04. Em Londres, o Brent avançou 5%, para US$120,16.
Para Arturo Porzecanski, professor de finanças da American University, em Washington, a criação de uma nova empresa só vai aumentar a burocracia. Além disso, colocará o Brasil em direção contrária à de diversos países, que estão ampliando o investimento estrangeiro:
- O governo não precisa criar uma estatal para ter o controle. O importante é a Petrobras buscar parceiros de primeira linha para investir.
Já Walter Molano, sócio do banco de investimentos BCP Securities, vê com bons olhos a criação de uma estatal:
- O pré-sal é do Estado. Não tem sentido ser privado. Uma empresa focada nisso vai se especializar em tecnologia de ponta.
(*) Com agências internacionais