Título: Reedição de JFK na relação com a América Latina
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Fonte: O Globo, 27/08/2008, O Mundo, p. 36

Plano prevê nova aliança para a região

DENVER, Colorado. Barack Obama tem planos específicos também para a América Latina. Ele quer reeditar a Aliança para o Progresso, implantada por seu ídolo John F. Kennedy, atualizando-a em modernidade e substância. E já tem inclusive um novo nome para ela: Aliança das Américas.

A iniciativa consta de um item específico de sua plataforma geral. Ela diz que uma aliança desse tipo só terá êxito se tiver "um alicerce de respeito mútuo", e ações que levem adiante a democracia, cuidando da segurança regional e criando "oportunidades de baixo para cima".

Obama faz um mea-culpa em nome de seu país. Ele diz: "Precisamos virar a página em relação à arrogância de Washington", sugerindo que ela cultivou um antiamericanismo em toda a região "que se instalou como um obstáculo no caminho do progresso".

Os assuntos que ele vê como prioritários nas relações dos EUA com a região são acabar com o tráfico de drogas, lutar contra a pobreza e a desigualdade e lidar melhor com a imigração. Ele sugere a criação de laços com o povo de Cuba, permitindo visitas ilimitadas de cubano-americanos a suas famílias e também remessas de dinheiro para elas e para amigos na ilha caribenha. Ele promete, ainda, fechar a prisão militar americana em Guantánamo.

A questão certamente mais polêmica nas renovadas relações dos EUA com a América Latina seria a da negociação de acordos comerciais bilaterais com países que ainda não os celebraram. "Vamos negociar acordos de livre comércio que abram mercados às exportações dos EUA. Nos comprometemos a incluir padrões internacionais trabalhistas e ambientais que possam ser realmente cobrados, e nos comprometemos a cobrar tais padrões de forma consistente e justa", diz a plataforma, referindo-se às duas áreas que têm criado mais obstáculos a acordos daquele tipo.

Obama é claro quanto às condições: "Não vamos negociar acordos de livre comércio que impeçam o governo de proteger o meio ambiente, a segurança dos alimentos ou a saúde de seus cidadãos, ou que dêem maiores direitos a investidores estrangeiros e não aos investidores americanos".

Ele busca, aparentemente, uma maior aproximação política com a região. E ao fazer isso percorre o caminho da penitência, criticando a postura do governo do presidente George W. Bush em relação à América Latina.

Há uma menção ao Brasil no capítulo específico da América do Sul que certamente deverá preocupar o governo brasileiro, motivando-o a "vender" melhor a sua política para a expansão da produção do etanol. A plataforma diz que ambientalistas se preocupam com a crescente demanda pelo produto "que poderia empurrar os produtores de cana-de-açúcar para a Amazônia".

Obama, curiosamente, registra no documento uma preocupação americana com o sucesso do Brasil nessa área. O documento reconhece o país como "um exemplo do grande potencial de energia renovável na América Latina", e acrescenta que "os produtores (de etanol) dos EUA têm toda a razão de se preocupar com a competição do Brasil". (J.M.P.)