Título: Déficit nas contas externas começa a diminuir
Autor: Duarte, Patrícia
Fonte: O Globo, 22/08/2008, Economia, p. 27

Saldo negativo recua de US$2,596 bi para US$2,111 bi em julho e deve cair para US$1 bi este mês, segundo BC

Patrícia Duarte

BRASÍLIA. A desaceleração do ritmo de remessas de lucros e dividendos por parte das multinacionais deu fôlego à conta corrente (transações do Brasil com o exterior), em acelerada deterioração desde o início do ano. Segundo o Banco Central (BC), o saldo corrente deve ficar negativo em cerca de US$1 bilhão em agosto, menos da metade do déficit de US$2,111 bilhões de julho e dos US$2,596 bilhões de junho.

- Houve desaceleração em julho num quadro que, sazonalmente, costuma ser pior. A tendência, portanto, é de desaceleração - afirmou o chefe do Departamento Econômico do BC, Altamir Lopes, referindo-se ao período de férias, quando crescem os gastos com viagens internacionais e há concentração de pagamento de juros.

As remessas de lucros e dividendos somaram no mês passado US$3,138 bilhões. Já em agosto, até o dia 21, estavam em US$1,077 bilhão. Para Lopes, isso se deve ao fim da grande disponibilidade de recursos nas empresas instaladas no país, que remeteram quase US$20 bilhões no primeiro semestre.

Viagens atingem recorde de US$3,474 bi no ano

O pagamento de juros em julho respondeu por US$1,288 bilhão do déficit, e as viagens internacionais, por US$838 milhões. Estas acumularam US$3,474 bilhões no ano, recorde histórico. Em ambos os casos, porém, espera-se agora uma desaceleração. Por exemplo, neste mês, até ontem, a conta de viagens tinha déficit de US$400 milhões, e o pagamento de juros, de US$420 milhões.

De positivo, em julho a balança comercial teve superávit de US$3,303 bilhões, 21,52% acima dos US$2,718 bilhões de junho. Os investimentos estrangeiros diretos somaram US$3,240 bilhões, chegando a US$19,942 bilhões no ano.

No ano, a conta corrente apresenta déficit de US$19,512 bilhões. A estimativa do BC para 2008, que será revisada mês que vem, é de US$21 bilhões. Mas especialistas não vêem o déficit como um problema.

- O Brasil cresce muito mais que o resto do mundo e, por isso, exporta menos e importa mais - disse o economista-chefe do BNP Paribas, Alexandre Lintz.