Título: Feridas ainda abertas no partido
Autor: Passos, José Meirelles
Fonte: O Globo, 27/08/2008, O Mundo, p. 35
Senador pró-Obama diz que é a vez da `geração pós-racial¿
Marília Martins
DENVER, Colorado. O senador Peter Groff, do Colorado, é um entusiasmado delegado de Barack Obama na convenção do Partido Democrata. Ele tem 45 anos e define a si próprio como um ¿representante da geração pós-racial¿, que está chegando ao poder junto com Obama. Groff define a convenção de 2008 como o momento em que o partido vai fazer sua maior aposta na renovação de suas lideranças. Ele acha que o tão comentado ressentimento dos partidários da senadora Hillary Clinton e as manifestações de protesto que tomaram as ruas de Denver fazem parte do momento de catarse em função da perda das primárias.
¿ Esta convenção é um marco na luta pelos direitos civis. Tanto Hillary quanto Obama são resultado deste processo, mas agora é hora de Obama. Chegamos a um momento em que a igualdade de direitos e oportunidades deve culminar na eleição de um presidente negro, para que as pessoas deste país possam acreditar que é possível para um negro ser presidente dos Estados Unidos ¿ disse Grof.
Na opinião dele, os partidários de Hillary vão ter que compreender essa situação e Grof ressalta que a própria senadora tem trabalhado muito a favor de Obama.
¿ Esperamos que Bill Clinton também faça a sua parte. Eles precisam perceber que ninguém está contestando o papel histórico dos Clinton. O que está acontecendo agora é uma outra coisa: surgiu uma geração que quer ultrapassar essa fase da luta pelos direitos civis em que a cor da pele tinha um peso determinante. A minha geração, que é a de Obama, está interessada noutra coisa: mudar as políticas sociais para dar mais oportunidades a todos, independentemente da cor. Cor para nós é secundário.
Para Groff, os partidários de Hillary estão presos ao passado com suas queixas sobre sexismo. Ele diz que a convenção vai marcar a passagem para um outro momento: a campanha do Partido Democrata tende agora a focalizar os assuntos que mais afetam o cotidiano da classe trabalhadora americana.
¿ A campanha de Barack Obama quer chegar à mesa da cozinha. Sabe aquele momento em que a família se reúne na cozinha para conversar sobre a escola dos filhos, sobre a prestação da casa própria, sobre a conta de luz ou sobre o preço da gasolina? Pois é: estes são os temas que deverão ser privilegiados agora ¿ conta Grof.
Para o senador democrata, ¿essa conversa de divisão racial soa como coisa do passado¿.
¿ Houve um tempo em que as políticas compensatórias eram necessárias para apagar as enormes diferenças vindas dos tempos de segregação. Mas isto passou. Agora, nós queremos que todas as crianças, de qualquer cor, tenham as mesmas oportunidades. Nós queremos políticas que sejam cegas para as diferenças na cor da pele ¿ diz Groff.
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