Título: Casos raramente são denunciados
Autor: Ramalho, Sérgio
Fonte: O Globo, 28/08/2008, Rio, p. 16

Para muitas meninas, ser escolhida por milicianos é sinal de poder

Apesar da revolta, as mães das menores exploradas sexualmente raramente denunciam os criminosos. Num dos casos citados no Conselho Tutelar de Jacarepaguá, a mãe conta que a filha fugia à noite para participar da ¿fila¿. Para muitas das meninas, estar entre as escolhidas dos milicianos é sinal de poder e status. Numa ocasião, uma mãe agrediu um dos exploradores, cujos filhos são integrantes da milícia da região. A PM foi chamada, mas, apesar dos indícios contra o homem, os policiais disseram à mulher que ela também seria presa por agressão. Com medo, a mãe da menina desistiu de registrar o caso.

As mães não são as únicas a enfrentar dificuldade no combate a esse crime. A apuração da 19ª Promotoria de Investigação Penal revela que profissionais como assistentes sociais, psicólogos e conselheiros tutelares classificam a exploração sexual de meninas na Gardênia Azul como uma epidemia. Eles pouco conseguem fazer para inibir a ação dos exploradores. A justificativa é ressaltada num documento anexado à investigação. ¿ Gostaria de ajudar nas investigações, para que a quadrilha fosse detida, mas também teme pela própria segurança e que possa ter o trabalho inviabilizado na comunidade, posto que precisa ter o aval dos chefes da área, que é sabidamente de milícia¿, diz o texto a respeito de um profissional.