Título: Quitinetes do tráfico
Autor: Cássia, Cristiane de
Fonte: O Globo, 28/08/2008, Rio, p. 17
Bandidos cedem moradias
Selma Schmidt
Cercada pelas comunidades do Cesarão ¿ maior conjunto habitacional da América Latina, que se favelizou ¿, do Antares e do Rola, a Favela do Aço, em Campo Grande, tem um marco divisório. A Escola Municipal Haydea Viana Souza é o limite entre o trecho liberado para o comércio, mantidas as restrições de áreas controladas por facções, e o território em que o tráfico não admite outros negócios. É nesse espaço, onde existe até um posto da PM, que os traficantes praticam a sua política assistencialista.
Nas ruas São Quarentino, São Romário e nos seus becos, há as avenidas de quitinetes ¿ casas divididas em cômodos que são alugados por R$70, R$80. Nessas vias, casas e lojas são vendidas por cerca de R$7 mil. Já no território em que o tráfico tem o monopólio da propriedade o espaço é cedido.
¿ Quem ocupa as quitinetes do tráfico não pode vender ou alugar, senão morre. Se sair, o tráfico entrega a outro. Minha casa é no trecho liberado, mas não posso reclamar quando os bandidos entram para se esconder ¿ conta um morador.
O tráfico é dono das cerca de 500 quitinetes instaladas em casas construídas pela prefeitura na década de 60, para abrigar desabrigados de enchentes. Na parte alta da favela, há outras centenas de casas de traficantes.