Título: Olavo Egydio Setubal, criador do Banco Itaú
Autor:
Fonte: O Globo, 28/08/2008, Rio, p. 18
SÃO PAULO. O pai, Paulo Setubal, sonhava formá-lo advogado, mas ele graduou-se engenheiro mecânico-eletricista e, por insistência do tio, Alfredo Egydio de Souza Aranha, no fim dos anos 1950 foi dirigir uma pequena instituição bancária que, anos mais tarde, transformaria em um dos maiores conglomerados financeiro do país, encabeçado pelo Banco Itaú. O banqueiro Olavo Egydio Setubal começou a vida profissional como engenheiro do Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), mas, dois anos depois de formado, partiu para a área empresarial ao fundar, junto com o colega de turma na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) Renato Refinetti, a Artefatos de Metal Deca. O ano era 1947.
Setubal perdera o pai Paulo, poeta e escritor, aos 14 anos e, desde então, teve em seu tio Alfredo Egydio, irmão de sua mãe, Francisca, uma grande referência pessoal. Foi ele quem o convenceu a trocar a Deca pela direção do modesto Banco Federal de Crédito. Com a morte do tio, Setubal deu início à expansão do negócio, começando pela aquisição do Banco Itaú, então uma instituição regional do sudoeste de Minas Gerais. Com Eudoro Villela, sócio de seu tio no banco, e o advogado José Carlos Moraes Abreu, que o acompanhava desde a criação da Deca, Setubal partiu para uma série de aquisições.
Em 1975, com o Itaú já entre os maiores bancos do país, Setubal afastou-se temporariamente da vida empresarial e tornou-se prefeito de São Paulo, a convite do governador paulista Paulo Egydio Martins. Nos quatro anos que esteve à frente da prefeitura, empreendeu uma ampla reforma administrativa e realizou importantes obras, deixando a marca de excelente administrador. Em 1979, Setubal voltou à presidência do banco.
No início dos anos 1980, ajudou o então senador Tancredo Neves a organizar o Partido Popular (PP) em São Paulo. Dessa aproximação com Tancredo durante a transição democrática do país resultou, em 1985, o convite do presidente José Sarney para assumir o Ministério das Relações Exteriores, cargo que Setubal exerceu por quase um ano. Depois de candidatar-se e ser derrotado nas eleições ao governo de São Paulo, Setubal retornou ao dia-a-dia do Itaú, encerrando sua trajetória em cargos públicos.
"Lula ou Alckmin é a mesma coisa"
Aos 23 anos, Olavo Setubal casou-se com dona Matilde, com quem teve sete filhos: Paulo, Maria Alice, Olavo Júnior, Roberto, José Luiz, Alfredo e Ricardo. Dona Tide, como era chamada, faleceu em 1977. Três anos depois, o banqueiro casou-se novamente, com Daisy Salles.
Em 1994, seu quarto filho, Roberto Egydio Setubal, assumiu a presidência-executiva do banco Itaú. Além do banco comercial e do banco de investimentos, o Itaú BBA, o grupo reúne sob a holding Itaúsa, presidida por Olavo Setubal desde 2001, três empresas do ramo industrial: a Itautec, de tecnologia; a Duratex, de chapas de madeira, que controla as marcas Deca e Hydra, de louças sanitárias e acessórios de metais para construção; e a Elekeiroz, do setor químico
Em 2003, Setubal assumiu também a presidência do Conselho de Administração do Banco Itaú Holding FInanceira S.A. Com ativos consolidados de US$216 bilhões, o Itaú ocupa hoje a 15ª posição no ranking dos maiores bancos das Américas, que é liderado pelo Citigroup, com US$2,1 trilhões em ativos.
Embora afastado das funções públicas, Olavo Setubal nunca se distanciou da vida política do país. Manteve relações e foi importante conselheiro de algumas das principais lideranças políticas brasileiras, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Pouco antes das eleições presidenciais de 2006, em entrevista à "Folha de S.Paulo", quando perguntado sobre quem seria melhor para o país - o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (que disputava a reeleição) ou Geraldo Alckmim, pelo PSDB -, disparou: "Lula ou Alckmim é a mesma coisa, os dois são conservadores". Ao serem reveladas as doações de campanha, ficou-se sabendo que o banco dera R$3,5 milhões para cada um dos dois candidatos, sendo um dos principais doadores.
"Olavo Setúbal foi um dos grandes empreendedores brasileiros do nosso tempo. Sempre acreditou que era possível construir um futuro melhor e, neste sentido, deu uma importante contribuição ao desenvolvimento do país, especialmente na área financeira", disse ontem em nota o presidente Lula.
O banqueiro Olavo Egydio Setubal faleceu ontem aos 85 anos no Hospital Sírio Libanês, em São Paulo. Ele estava internado havia um mês e morreu às 8h15m, de insuficiência cardíaca. Ele deixa a viúva, dona Daisy, e seus sete filhos. Seu corpo está sendo velado desde as 16h de ontem na própria sede do banco Itaú, por onde passaram empresários, políticos, executivos do mercado financeiro, religiosos e funcionários da instituição.
Seu corpo será cremado hoje, às 10h, em cerimônia restrita a familiares. Antes, às 8h30m, o arcebispo de São Paulo, cardeal Dom Odílio Scherer, celebra uma missa para parentes e amigos.