Título: PT e PMDB, uma aliança em perigo
Autor: Pariz, Tiago
Fonte: Correio Braziliense, 24/05/2009, Política, p. 7

Só Lula pode acabar com as discussões em torno dos nomes aos governos estaduais.

O PT está desconfiado das intenções de sua principal aposta eleitoral para 2010, o PMDB. Petistas acreditam que toda a pressão exercida pelos peemedebistas para antecipar os acordos estaduais vem do medo da legenda com o crescimento da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, nas pesquisas de intenção de votos.

Na avaliação de parlamentares do PT, há um temor do partido aliado sobre o próprio cacife para a eleição presidencial. Eles entendem que o PMDB pode se tornar menos atraente caso Dilma deslanche nas pesquisas e atinja, antes do ano que vem, o patamar próximo de 30%, histórico do PT na largada das corridas presidenciais. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer os peemedebistas ao lado da ministra para dar densidade eleitoral e capilaridade à candidatura de sua preferida.

Mas um impulso inesperado na campanha de Dilma pode fazer o PT não se esforçar para fechar uma aliança com o PMDB em alguns estados e ver como normal dois candidatos aliados concorrerem entre si. Isso pode ser lido como um recado direto ao ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima, que tem ameaçado se lançar na Bahia contra o governador Jaques Wagner.

Dentro do PMDB, há a mesma avaliação de que os petistas podem deixar de lado alianças estaduais ao perceberem que têm condições de eleger Dilma sem uma ampla coligação, ou seja, só com Lula como seu principal cabo eleitoral. Antecipar os acordos num momento intermediário da candidatura da ministra é capitalizar-se e garantir cabeças de chapa nos principais estados.

O maior partido do Brasil carrega o maior tempo de televisão e palanques fortes nos estados. Pode, assim, ser decisivo na disputa polarizada com o PSDB, que tem dois fortes pré-candidatos: os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves.

O presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), rejeita a possibilidade de os petistas se lançarem sozinhos e a tese de desconfiança em relação ao PMDB. Promete trabalhar para uma aliança duradoura com o partido. ¿O PMDB tem suas divisões e contradições, como tem o PT, também. Nós queremos a melhor relação possível com o partido e vou trabalhar para isso¿, disse o dirigente, que tem conversado com os diretórios estaduais para selar o quadro de alianças.

Contabilização Berzoini sabe que o partido, se fechar com o PT, não dará 100% de apoio. ¿O PMDB se dividiu em 2002 e 2006. E não estará unido em 2010¿, afirmou. Na última contabilização dos peemedebistas sobre 2010, dá 17, dos 27, diretórios estaduais com tendência a fechar com o PT. O problema é o acúmulo de dificuldades e nenhum nó sendo desatado. Como é o caso do Pará e do Ceará, onde a sede do diretório foi invadida pela Polícia Federal em busca de materiais que supostamente comprovariam antecipação de campanha do deputado lulista Eunício Oliveira, principal nome do partido no estado.

O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) cobrou posição mais ativa de Lula. ¿Está faltando o presidente Lula resolver pendências estaduais. Como houve essa antecipação de campanha eleitoral, é preciso resolver os problemas o quanto antes¿, disse. ¿E o primeiro passo é em Minas Gerais. Sem o apoio dos mineiros, corre-se o sério risco de a aliança nacional não sair¿, sentenciou.

Os peemedebistas gostaram da pesquisa do PT que mostra a ministra Dilma com percentual médio de 22%. Mas eles esperavam e contavam que esse patamar só seria atingido no final do ano, no cenário mais otimista. Com esse impulso, a tática precisa ser remodelada e o alvo é o presidente Lula, que será pressionado diretamente para desatar logo os nós.

-------------------------------------------------------------------------------- Alguns obstáculos

Na avaliação de alguns petistas, o PMDB quer agilizar acertos regionais para evitar que a negociação ocorra quando a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, estiver mais consolidada. Veja abaixo o cenário de estados complicados.

Minas Gerais

O estado é considerado essencial. O ministro das Comunicações, Hélio Costa (PMDB), tem interlocução com os colegas do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, e da Secretaria-Geral, Luiz Dulci. O problema é o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, que não abre mão da pré-candidatura ao governo estadual

Bahia

A relação entre o ministro da Integração Nacional, Geddel Vieira Lima (PMDB), e o governador da Bahia, Jaques Wagner (PT), azedou desde a campanha municipal. O peemedebista já disse que não pretende colocar obstáculos na aliança nacional, mas quer um gesto do petista

Pará

Era uma relação boa até o deputado Jader Barbalho (PMDB) determinar que todos os cargos ocupados pelo partido no governo Ana Júlia (PT) fossem entregues. Os peemedebistas dizem que o acordo só sai com intervenção do presidente Lula

Paraná

O governador Roberto Requião (PMDB) tem acordo pré-acertado com o prefeito de Curitiba, Beto Richa (PSDB). Mas o grupo peemedebista favorável ao acerto com o PT avalia ser possível reverter o cenário com conversa

Mato Grosso do Sul

O PMDB quer apoio incondicional do PT à reeleição do governador André Puccinelli, mas como a relação é historicamente truncada, só uma intervenção nacional poderia mudar o cenário tenso