Título: Aumento de gastos do governo é criticado
Autor: Jungblut, Cristiane ; Braga, Isabel
Fonte: O Globo, 29/08/2008, O País, p. 14

Hoje serão editadas duas medidas provisórias que fixam reajustes para mais 54 categorias do funcionalismo

Cristiane Jungblut e Isabel Braga

BRASÍLIA. Economistas e tributaristas criticaram ontem a decisão do governo de aumentar seus gastos em 2009 e manter elevada a carga tributária para arcar com esses custos, num cenário de crescimento menor da economia no ano que vem. E os gastos com funcionalismo não param: o governo vai editar hoje duas medidas provisórias fixando reajuste para mais 54 categorias que ficaram de fora da medida provisória 431, que concedeu reajustes a 1,4 milhão de servidores civis e militares (800 mil civis e 600 mil militares). O impacto de todos esses aumentos em 2008 será de cerca de R$7,6 bilhões - cujo crédito extraordinário já foi aprovado pelo Congresso.

Para a professora-adjunta e membro do Grupo Conjuntura da UFRJ , Margarida Gutierrez, o ajuste fiscal que o governo faz é ruim. Ela explicou que a carga tributária não pára de crescer porque precisa fazer frente às novas despesas do governo. A proposta orçamentária de 2009 mostra um aumento da carga tributária, com a receita total da União chegando a R$808,9 bilhões, ou 25,38% do PIB.

- Como a receita continua crescendo, a festa continua. Mas há o aumento do gasto público, que obriga a subir a carga tributária para manter esse padrão. No curto prazo, esse efeito não aparece. Mas a carga tem um limite e, quando chegar (a esse limite), o que vai fazer? - diz.

Segundo o ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, o impacto de todos os reajustes já está previsto na proposta orçamentária de 2009, que prevê gastos com pessoal no ano que vem de R$155,3 bilhões, R$22 bilhões a mais do que em 2008, num aumento de 16,5%.

Na avaliação de economistas e tributaristas, os recordes na arrecadação do governo acabam escondendo os problemas que poderão ocorrer se a economia não mantiver um ritmo de crescimento elevado. O alerta é de que as despesas que estão sendo criadas, com reajustes salariais e novos cargos, além da política de valorização do salário mínimo, são irreversíveis.

- Essas despesas se tornam irreversíveis. Ou há o aumento do PIB ou a carga tem que aumentar. E a redução não está à vista - disse o ex-ministro da Previdência José Cechin.

A oposição acusou o governo Lula de praticar uma gastança desenfreada e cobrou a aprovação do projeto que limita o aumento de gastos com a folha salarial dos servidores e do que cria a Previdência complementar dos servidores públicos. Para os líderes do DEM e do PSDB, as medidas que vêm sendo tomadas representarão um problema grave para os futuros governos. Eles enfatizam que não há razão para a criação de tantos cargos, um total de 85 mil em 2008 só no Executivo.