Título: Ossada de perus era de espanhol preso pelo Doi
Autor: Aggege, Soraya
Fonte: O Globo, 29/08/2008, O País, p. 15

SÃO PAULO. O Ministério Público Federal obteve a confirmação oficial, por exame de DNA, de que os restos mortais exumados em 1º de abril de 2008, no Cemitério de Perus, são do espanhol Miguel Sabat Nuet. Ele foi preso por uma equipe do Departamento de Operações Internas (DOI), em 9 de outubro de 1973, e apareceu morto um mês depois, em sua cela. Segundo a polícia informou na época, Nuet teria se suicidado. O MPF pedirá abertura de investigação para apurar as circunstâncias da morte e, se possível, a identificação dos assassinos.

A procuradora da República Eugênia Fávero, que integra a área cível do MPF em São Paulo e é a responsável pelo inquérito civil público que busca a identificação das vítimas da ditadura enterradas em Perus, representará aos procuradores da área criminal. Ela quer a identificação dos autores do crime.

Para Eugênia e o procurador regional da República Marlon Alberto Weichert, que também atua nos casos, a investigação e a punição de crimes da ditadura é possível sem a necessidade de se alterar a Lei da Anistia, pois os crimes cometidos no período são crimes contra a humanidade.

Vítima não tinha ligação com luta armada, diz MP

Miguel Nuet, morto aos 50 anos, era um vendedor de veículos que morava na Venezuela. Ele não tinha ligação conhecida com organizações de esquerda, segundo o MPF. Na sua ficha constava um ¿T¿ vermelho, que significa ¿terrorista¿, mas nunca foi provado seu envolvimento com nenhuma organização da luta armada.

Um documento encontrado nos arquivos públicos do estado por Suzana Lisboa, integrante da Comissão de Mortos e Desaparecidos Políticos, mostra Nuet como preso do Dops (Delegacia de Ordem Política e Social). Datado de 27 de novembro de 1973, o documento indica que o espanhol seria expulso quatro dias antes do seu enterro, o que vai na direção contrária da tese de ¿suicídio¿.

O MPF fará agora uma nova tentativa de exumação de restos mortais que podem ser de Hiroaki Torigoe, militante da Ação Libertadora Nacional (ALN), do Movimento de Libertação Popular (Molipo) e da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR).