Título: Antes do pré-sal, Petrobras já será exportadora
Autor: Paul, Gustavo ; Batista, Henrique Gomes
Fonte: O Globo, 29/08/2008, Economia, p. 29

Presidente da estatal diz que produção vai superar demanda interna em 223 mil barris a partir de 2009

Gustavo Paul, Henrique Gomes Batista e Eliane Oliveira

BRASÍLIA e RIO. Antes mesmo do início da produção comercial do pré-sal, a Petrobras será exportadora líquida de petróleo e derivados. Dados apresentados ontem pelo presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli, mostram que, já a partir de 2009, haverá um excedente significativo de óleo, pois a produção vai superar em 223 mil barris a demanda interna. Essa diferença vai crescer anualmente e dará um salto em 2015, quando a exportação será de 475 mil barris por dia.

Segundo Gabrielli, as estimativas levam em conta um crescimento médio do mercado brasileiro entre 4% e 4,5% nos próximos anos. Mesmo com esse ritmo, a produção brasileira de óleo será superior à demanda.

- Estamos falando de um excesso de produção de quase 500 mil barris por dia. Isso nos dá tranqüilidade em relação à auto-suficiência brasileira - disse Gabrielli.

Hoje a estatal já exporta petróleo e derivados, mas o excedente é pequeno. A Petrobras exporta 621 mil barris/dia de petróleo pesado e derivados, mas importa 594 mil barris/dia de óleo leve e derivados. A exportação é necessária pois o país ainda não consegue refinar todo o óleo pesado que produz e precisa de petróleo leve para suas refinarias. Com isso, o saldo excedente é de 27 mil barris/dia, só 12% da previsão para 2009.

Mas as declarações de Gabrielli foram consideradas muito otimistas pelo especialista do setor Adriano Pires Rodrigues. Segundo este, desde 2006 a Petrobras não tem conseguido atingir as metas de produção, o que também não deverá ocorrer este ano. A previsão para 2008 é uma produção média de 1,95 milhão de barris diários, e no primeiro semestre a média foi de 1,83 milhão de barris.

Segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex), explica, no balanço entre o volume de petróleo e derivados exportados e as importações, no primeiro semestre o país teve déficit de 100 mil barris/dia, não o superávit apontado pela Petrobras. Pires afirma que, este ano, o país deve voltar a ter déficit de US$8 bilhões nas importações de petróleo, depois de ter tido superávits nos últimos três anos.

Reduzir gargalo no refino é desafio para Petrobras

Para fazer face ao desafio de se tornar exportadora líquida de petróleo e derivados, Gabrielli ressaltou, no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), a necessidade de aumentar os investimentos. A estatal, disse, passou de uma média de investimentos de US$5,6 bilhões em 2003 para US$19,9 bilhões em 2007 e, este ano, deve chegar a US$24 bilhões. Até 2012, a média anual será de US$19,5 bilhões, mas sem considerar a exploração do pré-sal.

Os megacampos vão aumentar esses investimentos exponencialmente, disse Gabrielli. Ele citou a necessidade de contratação de 40 navios-sonda até 2017 e 234 embarcações. E disse que as descobertas no pré-sal demandarão a revisão do plano de negócios da Petrobras. Atualmente, a previsão é de US$112 bilhões até 2012.

Além disso, a Petrobras ressalta a necessidade de investimentos em cinco novas refinarias, que começarão a operar em 2011, e no aumento da capacidade das atuais, que custará US$29,6 bilhões. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva já determinou que o Brasil não deve ser um mero exportador de óleo cru, como os países árabes. Nos últimos dias, a Petrobras apresentou proposta confidencial ao grupo interministerial que estuda as novas regras para o setor, alertando para a necessidade de capitalização da estatal.

O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, aproveitou para alertar sobre o risco de mudanças nas regras de exploração afastarem investimentos:

- Não é necessário que o Estado assuma a exploração, mas que faça a gestão da riqueza de forma adequada.

COLABOROU Ramona Ordoñez, com agências internacionais