Título: Comida não esconde miséria
Autor: Lins, Letícia
Fonte: O Globo, 29/08/2008, Economia, p. 33
Falta de higiene e serviços básicos ainda afeta os pobres
RECIFE. Os dados que preocupam os pesquisadores da UFPE e do Imip são visíveis em Recife, em cuja região metropolitana o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese) calcula uma taxa de desemprego de 21,6%. Ou seja, mais de 350 mil pessoas sem trabalho. Os sinais de miséria podem ser vistos no dia-a-dia das favelas, onde boa parte da população vive da informalidade e de benefícios do governo.
Porém, já não se vê a legião de esquálidos que se observava antes nos altos e alagados da cidade. Se hoje o ganho é pouco, no passado era nada. É o caso de Andreza Regina Costa Filho, de 34 anos, sete filhos, entre 2 e 17 anos. O marido é carroceiro, trabalha com lixo para reciclagem. Sofreu um acidente e está parado. No momento, a família vive apenas com R$152 do Bolsa Família.
- Antes era fome mesmo. O benefício é o que sustenta a casa. Pelo menos dá para a comida: um pouco de macarrão, feijão, farinha, arroz, carne de vez em quando - diz Andreza.
Ela mora em uma casa sem esgoto nem vaso sanitário, e com ligações clandestinas de água e luz. Mas, apesar da pobreza e das precárias condições de higiene e alimentação, a agente de saúde Otávia Eusébia da Silva afirma que a desnutrição e o baixo peso já não são tão comuns como antes. (Letícia Lins)