Título: Discursos sob o controle total do candidato
Autor: Martins, Marília
Fonte: O Globo, 29/08/2008, O Globo, p. 34
Equipe de Obama analisou e editou falas com antecedência para manter linha pré-definida. Bill Clinton foi única exceçãoDENVER, Colorado. A equipe de Barack Obama teve controle total e absoluto da convenção nacional do Partido Democrata. Ela monitorou todos os aspectos nos mínimos detalhes, inclusive os discursos feitos ao longo dos quatro dias do evento ¿ que teve uma média de 50 pronunciamentos diários.
Além de determinar um tempo específico para cada orador, foi imposta uma condição obrigatória para todos: tinham que entregar os textos com pelo menos um dia de antecedência ao pessoal de Obama. Era necessário obter a sua aprovação formal. Vários dos discursos foram editados pelos conselheiros e redatores que trabalham para o candidato. Frases foram cortadas, parágrafos excluídos. Houve casos em que a equipe devolveu o texto sugerindo que outro fosse feito, propondo determinados enfoques.
¿ Isso não é nada fora do comum. Acontece com muita freqüência. O candidato costuma trabalhar com todos em cima de uma mensagem básica. Creio que todo o país percebeu muito claramente, de forma cristalina, quem é Obama e a grande diferença entre ele e McCain ¿ argumentou Bill Burton, porta-voz de Obama.
Peter Fenn, estrategista do partido, reforçou:
¿ O mais importante era que tivéssemos uma mensagem única e, portanto, Obama tinha que exercer o controle.
Segundo assessores dele houve uma única exceção: o ex-presidente Bill Clinton teve carta branca para dizer o que quisesse. Soube-se que ele tinha ficado furioso, a princípio, quando a equipe de Obama solicitou que Clinton tivesse como tema principal a segurança dos EUA. Ele, na verdade, preferia acentuar as questões econômicas. Isso lhe daria a chance de comparar seu governo com o de George W. Bush ¿ destacando que deixara o país com um grande superávit, e que o atual governo o entregará com um enorme déficit.
Depois de uma negociação, na qual Clinton sintetizou pontos que gostaria de ressaltar no discurso, chegou-se ao acordo:
¿ Obama disse a ele que podia falar o que bem entendesse, pois confiava em seu bom senso. Ele chegou a comentar com assessores do ex-presidente que estava tranqüilo porque sabia que Clinton tinha perfeita noção do que estava em jogo em seu discurso ¿ contou ao GLOBO Joe Lockhart, que foi porta-voz de Clinton na Casa Branca e hoje ganha a vida como estrategista político.
A principal preocupação de Obama seria evitar críticas muito incisivas ao Partido Republicano e seu candidato, John McCain. Elas poderiam ser feitas, mas teriam de se encaixar nos parâmetros de um tom menos agressivo. James Carville, que foi o principal estrategista das duas campanhas presidenciais de Clinton, não gostou dessas determinações:
¿ Acho que nós (o Partido Democrata) fomos muito suaves com McCain e o Partido Republicano. Garanto que logo no primeiro dia da convenção republicana, semana que vem, vamos ouvir um bocado de gente fazendo duras críticas a Obama. Não duvido nada de que ouçamos inclusive algumas ofensas.