Título: Cidades se juntam e aparecem
Autor: Magalhães-Ruether, Graça
Fonte: O Globo, 30/08/2008, O País, p. 14

Bonn perdeu posto de capital para Berlim, mas uniu-se à vizinha Colônia para formar a Metrópole da Renânia

Em 1991, quando o Parlamento alemão votou a favor da transferência da capital de Bonn para Berlim, as previsões para a região eram sombrias. Mas a capital da antiga República Federal da Alemanha buscou parceria com a vizinha Colônia, distante 30 quilômetros e centro de atração turística na região graças à sua famosa catedral gótica. As duas investiram em projetos urbanísticos, culturais e de infra-estrutura. Nove anos depois da mudança do governo e do Parlamento para Berlim, nasce a metrópole da Renânia (como é chamada a região), formada por Bonn, de 315 mil habitantes, e Colônia, de 1 milhão.

A nova metrópole, que tem como objetivo promover a região alemã do Reno como um todo, é a maior zona de crescimento econômico da Alemanha. Cada uma das cidades, que ficam no meio do caminho entre Paris e Berlim, mantém a autonomia administrativa.

Bonn ganhou 25 mil habitantes nos últimos anos, algo raro na Alemanha atual, onde as cidades ¿encolhem¿. Para Bonn foram a Organização das Nações Unidas (ONU), com 15 departamentos, a rádio estatal Deutsche Welle e três das maiores empresas da Alemanha: os Correios, a Telekom e o Postbank. A presença das três e da ONU atraiu 80 empresas menores, que revitalizaram Bonn do ponto de vista econômico. Hoje a cidade tem uma taxa de desemprego de 7,5%, a metade da que existe nas cidades mais pobres do Leste alemão.

Clemens Feldmann, proprietário da Ótica Feldmann, de Bonn, disse que foi uma ¿dádiva¿ para a região a saída do governo. Depois de depositar na Praça Muenster, no Centro, uma enorme estátua de Beethoven para uma exposição ao ar livre de interpretações plásticas do compositor durante o Festival Internacional de Beethoven, aberto anteontem, Feldmann dá sua explicação para a mudança ter trazido efeito tão positivo:

¿ As pessoas transferidas para Berlim eram funcionários públicos, que gastam pouco, enquanto as que vieram, funcionários da ONU e das grandes empresas, fazem circular muito dinheiro.

A prefeita Bärbel Dieckmann, de 59 anos, comemora.

¿ Desde 1995, Bonn tem se desenvolvido, passo a passo, como sede da ONU e de grandes empresas. Esperamos receber no futuro novas organizações das Nações Unidas. E, como sede de conferências internacionais, Bonn tem saldo positivo a mostrar ¿ diz a prefeita, lembrando a última conferência da ONU na cidade, a de Biodiversidade, em maio último.

O centro de conferências (World Conference Center) que está sendo construído pela empresa americana-coreana Hyundai perto do antigo Parlamento federal e do Campus da ONU será a partir do próximo ano, quando fica pronto, um dos maiores da Europa, capaz de abrigar cinco mil pessoas.

Empresas bem cotadas na Bolsa

Embora muito menor, Bonn ¿vale¿ hoje mais do que a grande Berlim, pelo menos em termos dos valores das empresas da cidade na Bolsa de Frankfurt. Enquanto Berlim, de 3,5 milhões de habitantes, não tem nenhuma matriz de empresa com ações cotadas no DAX (índice de ações da Bolsa de Frankfurt), Bonn é, depois de Munique e Düsseldorf, a cidade mais valiosa, levando em consideração a cotação de suas empresas na Bolsa.

Bärbel Dieckmann, eleita pela primeira vez em 1993 e reeleita seguidamente, como permite a legislação alemã, fez da transferência de governo federal e Parlamento para Berlim um negócio lucrativo para Bonn. Na lei aprovada em 1995, ficaram em Bonn seis ministérios (que têm escritório também em Berlim).

A capacidade de atrair empresas e organismos internacionais é possível pela uma ótima infra-estrutura, aliada a uma excelente oferta cultural. Bonn tem um teatro de ópera, com diversas produções por ano, orquestra própria, o pavilhão de concertos Beethoven (Beethovenhalle) e muitos museus, com coleções próprias de arte moderna.

A casa de nascimento de Beethoven, na Rua Bonngasse, é pequena, mas dá grande impulso cultural à cidade. Ao lado da casa, foi construída uma nova sala de concerto. Em frente, uma galeria de arte oferece retratos pintados de Beethoven em todos os estilos. Para o Festival de Beethoven, que termina no fim de setembro, a associação city-marketing Bonn abriu esta semana a exposição de estátuas do compositor, de 1,95m de altura ¿ muito mais altas do que foi o compositor. Beethoven é o principal fator de atração turística da cidade e o símbolo de como na Alemanha a província pode se medir com a grande metrópole.