Título: Dirceu: discurso afinado com a Defesa
Autor: Damé, Luiza
Fonte: O Globo, 30/08/2008, O país, p. 18

Ex-ministro defende importação de armamentos com transferência de tecnologia

Luiza Damé

BRASÍLIA. Há três anos fora do governo, o ex-ministro da Casa Civil e deputado cassado José Dirceu segue a mesma linha do Palácio do Planalto em relação aos princípios da política de defesa nacional. No mesmo dia em que teve um encontro reservado com o ministro da Defesa, Nelson Jobim, como mostrou ontem O GLOBO, Dirceu defendeu, em debate comemorativo dos 25 anos da Central Única dos Trabalhadores (CUT), que a importação de equipamentos e armamentos para as Forças Armadas seja feita com transferência de tecnologia para a produção do material no Brasil.

Segundo o ex-ministro - que deixou o governo no auge do escândalo do mensalão, acusado de ser o mentor do esquema -, faltam recursos públicos para melhor equipar a Marinha, o Exército e a Aeronáutica.

O discurso de Dirceu é muito semelhante ao do ministro da Defesa, Nelson Jobim. Esta semana, em visita à Base Aérea de Anápolis (GO), Jobim criticou países como os Estados Unidos, a Rússia e a Suécia, que não estariam dispostos a fazer parcerias de transferência de tecnologia, vinculada à compra de equipamentos e armamentos dessas nações.

Na última quinta-feira, durante a reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), O GLOBO fotografou a agenda de Jobim. Nela constava um encontro com Dirceu: "8h30 Min. José Dirceu, Res." Novamente procurado para falar sobre o teor da conversa com Dirceu, o ministro não quis se pronunciar para negar ou confirmar o encontro.

Jobim já deixou claro que o processo de aquisição de novos caças para a FAB - o projeto FX-2 - vai levar em consideração justamente as propostas que oferecerem transferência de tecnologia junto com a entrega dos jatos. O projeto FX-2 prevê a compra de 36 caças ao custo de US$2,2 bilhões.

Esse também é o discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Em audiência pública na Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara, Jobim declarou exatamente o que Dirceu disse ontem na CUT em relação à importação de equipamentos e armamentos:

- Queremos um plano estratégico de defesa nacional que precisa estar vinculado ao desenvolvimento nacional, ligando a questão a toda a política industrial e à criação de um parque industrial de defesa - disse Jobim.